História: No Prayer for the Dying - 1990



Mais um post da série sobre as referências históricas por trás das músicas do Iron Maiden. Nosso colaborador Ricardo Heavyrick está de volta, dessa vez falando um pouco sobre o álbum "No Prayer for the Dying".

1990 - NO PRAYER FOR THE DYING
Por: Ricardo Heavyrick (História e Caos)

Adrian Smith deixa o Maiden para entrar em sua carreira solo, e em seu lugar entra Janick Gers, o único guitarrista que ouço alguns fãs reclamarem de algum modo. Para mim, ele é bom. Mas a qualidade das composições da banda, sem Smith, caem.

Enfim, este álbum é considerado um dos mais fracos da banda, na minha opinião ele é melhor que A Matter of Life and Death e os dois cantados pelo Blaze. Mas há quem se apegue a este patinho feio da donzela. E é aquela coisa, não dá para ser brilhante sempre, né?

De qualquer maneira, este álbum traz, como não poderia faltar, mais e mais história!





TAILGUNNER (Artilheiro) nos traz de volta para as guerras aéreas na segunda guerra mundial, como em Aces High, tema que os caras nem gostam pelo jeito.

Desta vez a música nos leva para o bombardeio em Dresden, na Alemanha, entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, pela RAF e USAAF (força aérea inglesa e estadunidense respectivamente). Este bombardeio chama a atenção pela força desproporcional utilizada pelas artilharias.


Cidade de Dresden após o bombardeio

A cidade estava cheia de civis, não tinha defesas fortes e militarmente não era interessante para os inimigos. Porém, o comandante da RAF, Arthur Harris convenceu a USAAF que o ataque era necessário para destruir as linhas de comunicação alemãs e diminuir a moral.

Por muitos, o ataque foi considerado um crime de guerra, por outros o ataque fazia parte da estratégia assim como o ataque a várias outras cidades.



Na época em que a revista Veja ainda não mentia, em 1945, ela publicou um artigo intitulado "O Massacre de Dresden", clique aqui para ler.

Em 1992, uma estátua de bronze foi erguida para Arthur Harris em Londres. O povo e imprensa mundial criticaram a homenagem devido as mortes teoricamente causadas por ele nos bombardeios a Dresden. Em sua biografia,  Harris disse que o ataque a Dresden fazia parte da estratégia, e que era decisão de gente mais importante do que ele.

Churchill era o primeiro ministro e ministro da defesa na época em que o ataque foi planejado. Ele não tomava parte em todas as decisões, mas em algumas delas. E o ataque a Dresden, além dos motivos citados antes, também ajudariam os russos.

Bruce Dickinson comenta a faixa em questão: "O título da música veio de um filme pornô, sobre sexo anal, então eu pensei: bem, eu não posso escrever sobre isso! Então eu escrevi sobre artilheiros de verdade. Eu tinha algumas frases que começavam com "Volte seu caminho 50 anos para a glória de Dresden, sangue e lágrimas". Eu sei que não devíamos mencionar a guerra, mas é sobre a atitude dos caras que bombardeiam. Era morte de verdade nos céus sobre eles. Mas não há mais artilheiros nos aviões, é tudo feito por computadores usando mísseis. Costumava ser homem a  homem, mas agora, é máquina por máquina. Quem ainda usa balas?"



HOLY SMOKE dá sequência ao álbum fazendo uma sátira contra a religião "Believe in me – Send no money, I died on the cross and that ain't funny", mais exatamente contra os pregadores hipócritas que existem na TV.

Na música, a banda fala sobre Jimmy Reptile, que é na verdade Jimmy Swaggart, uma espécie de RR Soares ou Malafaia, um pregador que se aproveita do sentimento de culpa imposto sobre os cristãos para arrancar-lhes dinheiro. Bom, o santo homem foi pego duas vezes traindo a esposa, e em 1988 foi pego com prostitutas no Texas.



Ozzy também fez um som para "homenagear" este cara: Miracle Men (assista ao vídeo)

NO PRAYER FOR THE DYING é a faixa título do álbum, e ela é bem bonitinha, uma das mais bonitinhas da Donzela. Existe um filme com nome parecido, A Prayer for he Dying (1987), mas a letra da música não tem relação com o filme.

A letra fala sobre o sentido da vida, já o filme fala sobre um agente do IRA que explode um ônibus com crianças quando tentava explodir um caminhão com tropas. Após isso, ele deixa o IRA, porém a organização vai atrás dele para queima de arquivo...

PUBLIC ENEMA NUMBER ONE. Para você e nós nunca mais errarmos o nome da música: é Enema e não Enemy. Este é outro som em que o ânus alheio toma parte.

Enema é a introdução de um líquido no ânus para lavagem, purgação ou administração de medicamentos. Em filmes pornôs é muito utilizado antes do sexo anal. Quem vai explicar do que se trata esta música é o próprio Bruce Dickinson.

"Este som na verdade é sobre hipócritas verdes (ambientalistas). É sobre um cara grande com seu carro veloz, e ele está deixando a cidade em uma nuvem de fumaça com as crianças chorando de medo. Ele pegou sua viagem só de ida. Ótimo, até mais ver. Porque ele pode, ele deixa todos para trás, deixa as cidades superlotadas, armas, revoltas e parece que todos vão enlouquecer. Os políticos mentem para salvar sua própria pele, apostando que eles vão fazer a coisa certa e dão para a mídia bodes expiatórios a todo momento. A coisa toda é baseada entre New York e Los Angeles, e eu só espero que as crianças hoje em dia tenham mais cérebro do que os desgastados restos das gerações de 60 e 70. Califórnia sonha e a Terra morre chorando! É sobre isto, pessoas falando do meio ambiente e não fazendo nada. "

FATES WARNING fala sobre destino e só. THE ASSASSIN é ótima, e nos remete a mesma sensação da música "Killers", onde é narrada a sensação de um matador. Em Killers parecia mais um doidão, aqui é um cara sangue frio, mas ainda psicopata... muahahahaha!

Segundo Bruce a ideia era entrar na cabeça de um assassino. Ele não fazia por dinheiro, fazia porque achava legal, calcular, fria e sadicamente seus movimentos.



RUN SILENT RUN DEEP é baseada no romance do estadunidense, ex-oficial da marinha e escritor, Edward L. Beach Jr (1918 - 2002). Há também um filme de 1958 de mesmo nome.

Edward participou da Batalha de Midway durante a segunda guerra mundial. Esta batalha foi travada entre EUA e Japão seis meses após o ataque japonês a Pearl Harbor, ela iniciou a guerra do Pacífico.





Bruce havia escrito a letra para o álbum Somewhere in Time, até que neste álbum ele disse para Harris que esta letra se encaixava bem neste som. É uma música sobre batalhas no mar na segunda guerra mundial.


"On the way down to Davy Jones"

Davy Jones (Davy Jones' Locker) é um eufemismo para quem morre no fundo do mar. O que se sabe é que ele é uma lenda, mas sua origem é incerta. A primeira menção a Davy Jones está na obra The Adventures of Peregrine Pickle de Tobias Smollett (1751).

HOOKS IN YOU é a última colaboração de Adrian Smith com a banda até seu retorno em Brave New World. Este som faz parte da "Saga da Prostituta Charlotte". Aliás, há discussões se ela faz parte ou não. Nesta faixa há uma menção para 22 Acacia Avenue: "I got the keys to view at number 22".

Bruce novamente faz menções sexuais nesta faixa. O vocalista do Iron Maiden diz que estava a procura de uma casa para comprar, e em uma delas haviam três gays, um deles obviamente era sadomasoquista (com roupas de couro e tudo mais), e em um dos quartos haviam ganchos industriais parafusados nas vigas. Depois disso ele foi para casa e escreveu a letra. Ah, e ele não comprou a casa.





BRING YOUR DAUGHTER... TO THE SLAUGHTER foi escrita por Bruce e as guitarras são de Janick Gers, antes dele entrar no Maiden. A música foi feita para o filme A Hora do Pesadelo 5 (1989) e Harris gostou tanto que a colocou neste álbum. Fez certo, ela é uma das que salvam o álbum.



E, finalmente, MOTHER RUSSIA!

Segundo Bruce Dickinson, "Mother Russia é sobre a tragédia de uma grande terra, que tem uma incrível história de ser invadida e as pessoas massacradas, por séculos, e a música diz: Não seria ótimo se a Russia finalmente se unisse agora e vivesse em paz?"

A música não é uma homenagem a queda do regime comunista, pois, a URSS só caiu em 9 de dezembro de  1991, mais de um ano após o lançamento desse álbum.

Eu tenho alguns posts no meu blog falando sobre a URSS, só clicar aqui e viajar no tempo para o maior país do mundo e um dos mais sofridos.

A capa do álbum! Não poderia deixar de falar dela, mas vou deixar sim hehe. Farei um post falando apenas das capas dos álbuns do Iron Maiden, e outros falando dos singles e outros dos shows gravados. Mas calma que tenho que chegar no The Final Frontier para pensar nestas coisas ainda.

Após este álbum teremos o Fear of the Dark, e depois um até logo de Bruce para o Maiden e seus fãs.

TRACKLIST DE NO PRAYER FOR THE DYING - 1990

1. TAILGUNNER
2. HOLY SMOKE
3. NO PRAYER FOR THE DYING
4. PUBLIC ENEMA NUMBER ONE
5. FATES WARNING
6. THE ASSASSIN
7. RUN SILENT RUN DEEP
8. HOOKS IN YOU
9. BRING YOUR DAUGHTER... TO THE SLAUGHTER
10. MOTHER RUSSIA



FORMAÇÃO
BRUCE DICKINSON - Vocalista
STEVE HARRIS - Baixo e Backing Vocals
DAVE MURRAY - Guitarra
JANICK GERS - Guitarra
NICKO MCBRAIN - Bateria

LEIA TODOS OS POSTS DA SÉRIE
IRON MAIDEN (1980) // KILLERS (1981) // THE NUMBER OF THE BEAST (1982) // PIECE OF MIND (1983) // POWERSLAVE (1984) // SOMEWHERE IN TIME (1986) // SEVENTH SON OF A SEVENTH SON (1988) // FEAR OF THE DARK (1992) // THE X FACTOR (1995) // VIRTUAL XI (1998) // BRAVE NEW WORLD (2000) // DANCE OF DEATH (2003) // A MATTER OF LIFE AND DEATH (2006) // THE FINAL FRONTIER (2010)