História: Seventh Son of a Seventh Son - 1988

Nosso parceiro Ricardo Heavyrick está de volta com mais um post da série sobre as referências históricas por trás das composições do Iron Maiden. Saiba mais sobre o que há nas entrelinhas das músicas do sétimo disco da Donzela de Ferro, o fantástico "Seventh Son of a Seventh Son" de 1988!



1988 - SEVENTH SON OF A SEVENTH SON
Por: Ricardo Heavyrick (História e Caos)

Agora voltamos para 1988 com este grandioso álbum chamado "Seventh Son of a Seventh Son". Eu finalmente já havia nascido [e daí né?!]. Este é o último álbum da era clássica do Iron Maiden, depois disso ainda tivemos bons álbuns como "Fear of the Dark" ou "Brave New World", porém estes não se comparam aos da década de 80.

"O Sétimo Filho do Sétimo Filho" é o sétimo álbum da banda. Praticamente uma narrativa. Mas antes de falar de música por música, é interessante citar um resumo da história feito pelo portal Iron Maiden Commentary, que tem me ajudado muito, diga-se de passagem. O resumo sugere o seguinte:

Moonchild: O demônio manda um aviso para os pais da criança: não adianta escapar!
Infinite Dreams: O pai do sétimo filho (que também é o sétimo de sua geração), tem visões que ele não compreende;
Can I Play With Madness: O pai do sétimo filho busca uma explicação para suas visões, mas não gosta muito do que ouve...
The Evil That Men Do: A criança nasce, o pai morre;
Seventh Son of a Seventh Son: Nascimento da criança com poderes sobrenaturais, o bem e o mal disputam a criança;
The Prophecy: O garoto se dá conta de seus poderes destruidores e tenta avisar a todos da profecia, mas ninguém dá ouvidos a ele;
The Clairvoyant: O garoto torna-se vidente e passa a ter controle de seus poderes, e está ciente que este poder poderá destruí-lo;
Only The Good Die Young: esta música é uma reflexão de tudo que aconteceu.

Bom, agora que sabemos o resumão, vamos nos aprofundar um pouco mais na história por trás da história deste álbum...

MOONCHILD é inspirada no ritual "Liber Samekh" de Aleister Crowley (1875–1947). Este ritual é feito para a besta, para que se possa obter conhecimento e conversar com seu guardião.

Lúcifer (Lucem ferre), o portador da luz, é uma referência ao planeta Vênus (estrela D'Alva) e também ao anjo caído. Como muitos sabem, a mitologia cristã faz muitas referências a outras mitologias, inclusive neste caso, onde na mitologia grega o titã Prometheus dá o fogo para os humanos, assim como Lúcifer leva o conhecimento para Adão e Eva. Ambos são punidos por seus respectivos deuses.



Moonchild também é o nome de um livro de 1917, escrito por Aleister Crowley, que fala da luta das forças do bem contra o mal.

A letra da música cita Gabriel, o anjo que jogou Lúcifer no inferno, e cita também Mandrake: "Moonchild - hear the mandrake scream", que é também o nome da planta Mandrágora (quem joga RPG certamente já ouviu falar).

Wikificando: "O uso da raiz da planta é muito antigo, encontrando-se citado nos textos bíblicos em Gênesis 30:14 e Cantares 7:13. Segundo lendas medievais, as raízes da mandrágora deveriam ser colhidas em noite de lua cheia, puxadas para fora da terra por uma corda presa a um cão preto; se outro animal ou pessoa fizesse esta tarefa, a raiz "gritaria" tão alto que o mataria (...) Outra lenda refere que a mandrágora tinha como semente o sêmen de um homem enforcado."

A raíz da mandrágora tem forma de um garfo de três pontas (ou tridente como queira), e era considerada uma planta com superpoderes. Acredita-se que ela nascia embaixo das forcas, após o solo ser banhado com sêmen do homem enforcado [não me pergunte como foi cair sêmem de uma cabeça rolando, e se souber como, deixe nos comentários].

Para tirar a mandrágora, o sujeito precisava colocar cera nos ouvidos, para que o grito da planta [sim, a planta gritava ao ser arrancada do solo] não ensurdecesse ou matasse. A planta era usada para invencibilidade, encontrar tesouros ou auxiliar na gravidez - e talvez, deve ter auxiliado a mãe do sétimo filho do sétimo filho.

Procure por Thelema e Aleister Crowley para saber mais sobre este mundo.





INFINITE DREAMS fala sobre o pai do sétimo filho que está atormentado por sonhos e pesadelos paranormais. Ele também deve ter alguns poderes, mas não entende suas visões. A música explora o que pode haver depois da morte

"There's got to be just more to it, than this
Or tell me why do we exist
I'd like to think that when I die
I'd get a chance another time
And to return and live again
Reincarnate, play the game
Again and again and again..."

CAN I PLAY WITH MADNESS é um das músicas mais conhecidas da banda. A música pode ser considerada feliz ou meio doida, já que é assim que o pai do sétimo filho se sente ao tentar entender o porquê de suas visões.





Um pequeno aparte...

Este álbum fala sobre Lúcifer e de sua morada, o inferno. O inferno é um tema bastante explorado por várias religiões, pela literatura e cinema. Na Divina Comédia de Dante Alighieri, por exemplo, ele mostra o inferno como nove círculos de sofrimentos localizados na Terra. Quanto mais grave o pecado do pecador, mais o sujeito desce.



THE EVIL THAT MEN DO teve seu nome retirada deste trecho da obra Julio César (1599) de William Shakespeare:

"Friends, Romans, country men, lend me your ears; I come to bury Cæsar, not to praise him. The evil that men do lives after them, the good is oft interred with their bones; so let it be with Cæsar." Julius Cæsar. ACT III Scene 2.



Este trecho é falado por Marco Antônio após a morte de César pelos senadores traidores (desculpem o pleonasmo). Christian Gurtner interpreta o discurso de Marco Antônio em seu podcast, no site o Escriba Café. Uma obra prima da internet!





No Rock in Rio de 2001, Bruce Dickinson, antes de cantar esta música citou: "The good that the man do, is often interred with their bones, but the evil that men do, lives on" (confira no video).



SEVENTH SON OF A SEVENTH SON é baseada na ficção de Orson Scott Card, Seventh Son (1987). Alvin, o sétimo filho do sétimo filho não sabia de seus poderes, mas agora os descobre, tendo ele que escolher entre o bem e o mal, que fazem o possível para persuadí-lo.



Em THE PROPHECY,  Alvin pede para que todos acreditem na profecia que iria destruir a vila. Lembrando que a lenda deve ser da época medieval, então, destruir uma vila era muita coisa. A profecia se mostra como algo inevitável, ou seja, estava escrita, e nada poderia mudá-la.



THE CLAIRVOYANT (o som que mais gosto deste álbum), aqui Alvin já sabe controlar suas visões, e não sabe o que fazer de sua vida, pois estes poderes irão destruí-lo de qualquer forma.





ONLY THE GOOD DIE YOUNG encerra este grande álbum! É uma reflexão, aparentemente de Alvin e de Lúcifer, em estrofes alternadas sobre a vida e a morte. Também dá uma cutucada de leve nos cristãos, que preferem crer em seu livro velho - Walking on water - are miracles all you can trust? - do que nos acontecimentos que chamam a atenção no momento. A profecia se cumpre, quem não acreditou neste novo profeta, morreu...

Esta música novamente leva ao pensamento sobre como o destino é inevitável. O sétimo filho sente-se como um mero peão (de xadrez mesmo) na luta entre o bem e o mal, que não tem um vencedor.

A faixa fala do número 7 por várias vezes, e não à toa, existe todo um misticismo acerca deste número. Só não há como confirmar quando há uma tentativa de forjar o número 7, como fica claro em as 7 maravilhas do mundo ou, provavelmente ou coincidentemente nas passagens bíblicas onde o 7 é muito usado, ou quando de fato existem 7 tais coisas como: as 7 cores do arco-íris, os 7 mares, as 7 notas musicais, os 7 dias da semana...

Até o próximo álbum!

TRACKLIST DE SEVENTH SON OF A SEVENTH SON (1988)

1. MOONCHILD
2. INFINITE DREAMS
3. CAN I PLAY WITH MADNESS
4. THE EVIL THAT MEN DO
5. SEVENTH SON OF A SEVENTH SON
6. THE PROPHECY
7. THE CLAIRVOYANT
8. ONLY THE GOOD DIE YOUNG



FORMAÇÃO
BRUCE DICKINSON - Vocalista
STEVE HARRIS - Baixo e Backing Vocals
DAVE MURRAY - Guitarra
ADRIAN SMITH - Guitarra e Backing Vocals
NICKO MCBRAIN - Bateria

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