História: Powerslave - 1984



Mais um post da série sobre as referências históricas por trás das músicas do Iron Maiden. Nosso colaborador Ricardo Heavyrick está de volta, dessa vez falando um pouco sobre o álbum Powerslave.

1984 - POWERSLAVE
Por: Ricardo Heavyrick (História e Caos)

Qual nerd não lembra ou não viu algo sobre o dia de lançamento do MacIntosh, no comercial do Super Bowl em 1984? Foi um ano também muito importante para a política no Brasil. Tancredo Neves fora eleito presidente, o primeiro após a sombria, criminosa e sangrenta ditadura militar. Aconteciam também as Diretas Já, que na véspera do aniversário da cidade de São Paulo, na Praça da Sé, a Rede Globo noticiou como sendo a festa de aniversário, escondendo a manifestação.

Na música, Madonna lança Like a Virgin, Michael Jackson ganha vários prêmios pelo estrondoso sucesso do álbum Thriller, o Metallica lança Ride the Lightining, Scorpions Love at First Sting, e... o Maiden começa a grandiosa turnê World Slavery Tour. Falta algo? Ah sim, claro, o Iron Maiden lança o álbum Powerslave!





Winston Churchill e Iron Maiden unidos em ACES HIGH para começar este excelente álbum! Esta música mostra a visão de um piloto do caça inglês Spitfire durante a segunda guerra mundial.

Churchill's Speech
"We shall go on to the end.
We shall fight in France
We shall fightover the seas and oceans.
We shall fight with growing confidence and growing strength in the air.
We shall defend our island whatever the cost may be
We  shall fight on beaches, we shall fight on the landing grounds,We  shall fight in the fields and in the streets,We  shall fight on the hills.
We shall never surrender."


O discurso de Churchill na introdução (que não está no álbum mais foi incluído no vídeo clipe e nos shows)  foi pronunciado por ele enquanto era Primeiro Ministro inglês, na câmara dos Comuns em 4 de junho de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Confira abaixo uma versão editada e com legendas do discurso. Para conferir o discurso completo (sem legendas) clique aqui.



Batalha da Grã-Bretanha foi a primeira batalha apenas com aeronaves. A blitz alemã da Luftwaffe (blitz em inglês significa flash ou lightning e vem de blitzkrieg, guerra relâmpago) atacou Londres e várias outras cidades inglesas entre 7 de setembro de 1940 e 10 de maio do ano seguinte. Mais de 40.000 pessoas foram atingidas nos bombardeios e mais de um milhão de casas foram destruídas, mais da metade em Londres.



Os alemães começaram atacando pistas de pousos e fábricas, para que os ingleses não tivessem como repor suas perdas. Os ingleses atacaram Berlim e depois, por ordens do Führer, a Luftwaffe começou seus ataques contra a população para espalhar medo.


Supermarine Spitfire, avião de caça britânico da Segunda Guerra Mundial

As defesas inglesas foram melhorando, a maior dificuldade dos ingleses era se defender durante os ataques noturnos. Conforme o tempo foi passando os ataques diminuíram (os alemães estavam perdendo muitos pilotos e aeronaves) até que os alemães suspenderam a Operação Seelöwe (Leão Marinho) e partiram para conquistar a União Soviética.





Seguimos com 2 MINUTES TO MIDNIGHT, que tem uma letra voltada para as políticas de guerra, algo como alguns políticos e empresários ganhando com a desgraça da população.

Durante a música é feita uma referência a Bergen-Belsen, que era um campo de concentração nazista, não era de extermínio, mesmo que muita gente tenha morrido lá vítima de doenças e torturas. Hoje em dia é um campo aberto ao público.



"Dois minutos para meia-noite" é algo bem interessante. O comitê Bulletin of the Atomic Scientists da Universidade de Chicago, desde 1947 mantém um relógio chamado de Doomsday Clock (Relógio do Apocalipse) que conta quantos minutos faltam para um desastre nuclear baseado nos acontecimentos mundiais.



Quanto mais o gráfico desce, mais próximo do desastre ele está. Em 1953, como podem ver na imagem abaixo, este índice chegou à 2 minutos (to midnight, ou seja, do apocalipse) e é disso que a música fala. Confira aqui o índice atual.

LOSFER WORDS é uma contração de "lost for words", ou seja, não há o que dizer. E "Orra" é a pronúncia da palavra Horror em Cockney, que é o sotaque do pessoal do East End de Londres.

Seguimos com FLASH OF THE BLADE, que é outro som que fala de um espadachim. Um garoto que viu os pais morrerem, aprende as técnicas da espada com seu mestre e parte para vingança. Esta faixa faz parte da trilha sonora do filme italiano Phenomena (1985) filme que inspirou o jogo de horror psicológico Clock Tower, disponível para PS3.



THE DUELLISTS está relacionado com filme de mesmo nome, de Ridley Scott (anos mais tarde diretor de Hanibal e Robin Hood), foi lançado em 1977. Este filme nos leva para França de 1800, época de apogeu e declínio de Napoleão Bonaparte.

Pelo que entendi (porque não vi o filme) são dois soldados do exército de Napoleão que por mais de 20 anos, duelam entre si, com algumas pausas, e ninguém sabe exatamente o motivo.



BACK IN THE VILLAGE refere-se a "The Village" do seriado The Prisoner, que já foi citado no texto do álbum The Number Of The Beast.

POWERSLAVE a faixa que dá nome ao álbum é a próxima. Nesta música um faraó lamenta a limitação de seus poderes, se ele é um deus, porque tem que morrer?



A letra faz menções a símbolos egípcios como o Olho de Hórus que significa poder, coragem e proteção. Simbolizava o olho direito do falcão, isto é, de Hórus, o qual foi perdido durante a luta contra seu tio Seth, que o fracionou em 64 partes. Diz a lenda que o olho foi restaurado por Thoth.



Após ser restaurado, Hórus pode reviver Osíris (referido no verso "Enter the risen Osiris-risen again").

No fim da música, ele fala sobre o que acontecerá a ele após sua morte, baseado claro, na fictícia maldição do faraó (A shell of a man God preserved-a thousand ages). Esta história de maldição começou após 1923, ano da descoberta da tumba de Tutankhamon por Lord Carnarvon e sua expedição, financiada por ele aliás.





Lord Carnarvon morreu 4 meses depois graças a picada de um mosquito. Enquanto ele morria, por assim dizer, acabou a luz no Cairo e seu cachorro, que estava na Inglaterra, começou a uivar até morrer. Bom, aí a imprensa fez seu papel, espalhou a notícia com estardalhaço e muitos "analistas" começaram a sugerir que podia ser uma maldição do faraó, aí inventaram que haviam inscrições com maldições nas tumbas e o resto vocês já imaginam. Hollywood agradece mais esta lenda.



E finalmente, chegamos na memorável RIME OF THE ANCIENT MARINER. Esta música é baseada no romance de nome parecido - The Rime of the Ancient Mariner (O Conto do Velho Marinheiro) - escrito pelo poeta, crítico e ensaísta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772–1834) em 1798. Este poema dá início a literatura romântica na Inglaterra.



Assim como na música, o poema fala de um marinheiro que no caminho de um casamento, encontra um homem e começa a contar suas histórias em alto mar. Confira a tradução do poema para o português, aqui mesmo no Iron Maiden 666. The Rime Of The Ancient Mariner (O Poema)



TRACKLIST DE POWERSLAVE (1984)

1. ACES HIGH
2. 2 MINUTES TO MIDNIGHT 
3. LOSFER WORDS
4. FLASH OF THE BLADE
5. THE DUELLISTS
6. BACK IN THE VILLAGE
7. POWERSLAVE
8. RIME OF THE ANCIENT MARINER

FORMAÇÃO
BRUCE DICKINSON - Vocalista
STEVE HARRIS - Baixo e Backing Vocals
DAVE MURRAY - Guitarra
ADRIAN SMITH - Guitarra e Backing Vocals
NICKO MCBRAIN - Bateria

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