Loopy’s World (Parte 10) - Gravando o Primeiro Álbum



LOOPY'S WORLD (PARTE 10) - GRAVANDO O PRIMEIRO ÁLBUM
Por: Steve Loopy Newhouse // Tradução: Ricardo Lira

Com Steve e Rod constantemente empurrando todo mundo para manter as coisas se movendo à velocidade do som, concertos estavam sendo organizados antes que a equipe estivesse pronta. Então nos instruíram, e eu quero dizer NOS instruíram a ir para um estúdio em Holborn, Central London, para gravar um álbum. A EMI havia desembolsado os fundos e queria o Iron Maiden fora de lá tão rápido quanto possível.

A coisa toda foi muito corrida. A equipe, sendo eu mesmo, Pete e Vic, levou tudo do estúdio em Hollywood para esse apertado e pequeno estúdio, localizado no subterrâneo de um estacionamento, pouco fora de Kingsway, em Holborn. Se vocês me perguntassem como chegar lá agora eu não saberia dizer.

Eu costumava ser muito bom em direções e era conhecido como o navegador na turnê porque, como disse antes, eu não dirijo, então traçar a rota se tornou meu negócio. Esse lugar era difícil de encontrar, mas na segunda tentativa, nós achamos.

Com a van sendo grande demais para entrar no estacionamento de carros, tivemos que descarregar tudo na rua, e depois fomos guiados para onde o equipamento da banda deveria ser montado, dois níveis abaixo. Não foi exatamente das mais fáceis tarefas que já exerci, quando se tem que competir com veículos vindos de ambas as direções e nossa caminhonete ali bloqueando a saída.

Agora, alguns de vocês podem estar dizendo: "Mas isso é fácil", e podem até estar certos, mas na ocasião não era "fácil". As ruas de Londres não são tão largas quanto as ruas de Paris ou Nova Iorque, então ter uma caminhonete estacionada sobre a entrada/saída de um estacionamento, ainda que nas primeiras horas da manhã de um domingo, está fadado a causar alguma sorte de congestionamento. E não demorava muito até a polícia mostrar sua face amável.

No tempo em que Vic teve que explicar aos policiais legais que estávamos aqui para carregar nosso equipamento para dentro de um estúpido e pequeno estúdio que alguém pensou ser uma grande ideia construir, dois níveis abaixo, no subsolo de um estacionamento, o policial legal deixou pra lá com o comentário: "Pensei que isto fosse Candid Camera até perceber que eles pararam há anos atrás." (N.T.: Candid Camera foi um antigo programa de TV americano precursor da 'pegadinha', com brincadeiras e câmera escondida. Na Inglaterra a série iniciou em 1960, apresentada por David Nixon, e durou, com intervalos, até por volta de 1976).

Ele também disse algo sobre seu filho gostar de Iron Maiden e nos deixou prosseguir.

Então esta deveria ter sido a parte fácil, carregando o equipamento do nível da rua até o calabouço que se tornou nosso lar pelas próximas semanas, mas as coisas não ficaram melhores.

Então me foi mostrado o estande onde eles queriam que eu montasse o kit de bateria, cerca do tamanho de uma cozinha do Conselho (N.T.: O termo usado por Loopy é 'council kitchen', que é uma cozinha montada através de um programa de governo inglês, geralmente bem pequena). "Isto vai dar briga", eu disse a Vic. Ele concordou, mas me disse para prosseguir com a coisa e esperar para ver o que acontece assim que a banda aparecer. Eu fiz o que sempre fazia. Continuei com a coisa.

Algumas vezes você sabe quando as coisas estão certas e quando estão erradas. Isso estava errado. Mas ei, só estava fazendo meu trabalho.

Você conhece aquele ditado sobre não haver espaço suficiente para balançar um gato? (N.T.: Literalmente o ditado 'not enough room to swing a cat' se traduz por 'espaço ínfimo'). Agora, supondo que você pegue o gato pelo rabo, a porra de um gatinho teria ficado muito grande, e ainda é como se ele tivesse todas as patas removidas e possivelmente a cabeça também. Desculpe-me amantes de gatos, mas eu só estou proporcionando a escala. Tenho dois gatos adoráveis e odiaria vê-los machucados, mas metáforas são o que temos que alimentar por aqui.

Vic então levou a van para trazer a banda.

Eu montei a bateria e a aloquei dentro do espaço reservado, rezando para Clive ter braço suficiente e perna sobrando para tocar na maldita coisa. Tinha visões dele batendo com os cotovelos nas paredes, e não estava feliz com aquilo.

Após poucas horas virando a bateria de um lado para outro e percebendo que não ia encaixar, eu disse para Pete: "Vamos esperar até Clive chegar aqui".

Ambos concordamos que o kit de Clive não ia encaixar naquele espaço, então agora isso estava fora do nosso alcance. Com nada mais para fazer até a chegada da banda, eu e Pete saímos e fomos fumar.

Foi quando vi uma das coisas mais ridículas que já presenciei. Uma grande e afinada limusine branca lentamente se encaminhando até as portas do estúdio, e eu percebi que a banda estava dentro.



Já tinha ouvido uma conversa sendo discutida sobre uma Limo, por Steve e Vic, mas não fazia ideia do que eles estavam querendo dizer. Então era isso!! Não é o modelo de transporte que você tem todo dia, mas se a banda queria, eles tiveram.

Aquilo não impressionou todo mundo, entretanto. Pete caiu fora com o seu "mas que merda?" na cabeça, mas eu permaneci lá, descrente.

"Tem café aí, Loopy?" perguntou Rod. "Por que está me perguntando?" eu disse. Eu era o roadie de bateria, porra, não seu, ou o vassalo de ninguém. Fui dar uma caminhada também.

Uma caminhada na manhã de domingo por Kingsway e Holborn é algo que vou me lembrar para sempre. Estava feliz de ficar longe das brigas de casa que haviam surgido.

A pergunta e a resposta eram as mesmas. Até certo ponto na história da banda não havia brigas, argumentos, ou a menor chateação. Agora, aqui estávamos, poucos meses mais tarde, tendo assinado um contrato com uma das maiores gravadoras de discos da época, e os 'Argumentos Somos Nós' estavam procurando ver se eles poderiam entrar em ação.

Quando voltei 25 minutos mais tarde, estava havendo uma discussão sobre o fato da bateria ser larga demais para a área em que foi designada. Sentei com uma face convencida, ouvindo comentários sendo atirados pra lá e pra cá. Já não havia dito tudo isso para Vic três horas atrás? Aparentemente, mas ninguém me ouvia.

O kit de bateria foi desmontado e montado em uma sala inteiramente diferente, que eu pensei ter sido uma vez a Recepção. Isso queria dizer que a única TV e máquina de café de todo estúdio estavam agora no quarto da bateria de Clive. Pelo menos o kit era bom, e cheirava ao melhor estilo da Columbia.

E sim eu digo café, não cocaína (N.T.: Loopy utiliza o termo ‘marching powder’, um termo utilizado para esta droga) (honestamente oficial, eu não estava inalando isso, só estava cheirando...)

Tá, eu começo a divagar. Uma vez o kit montado, Clive não enchia ou reclamava uma só vez. Todo o álbum foi gravado com as peles que ele usava desde o início. A única coisa nova que ele usava a cada dia eram as baquetas. Dias felizes!!!

Muito foi feito na correria, mas muito tempo foi desperdiçado também. Se apenas um deles, Rod, Steve, ou mesmo Vic tivessem tomado providências antes de pelo menos ir checar o lugar, nada disso teria acontecido.

Numa situação envolvendo um concerto, se Steve não gostasse de algo, ele não acordava o show (como aconteceu no Brecknock). Harry disse ao dono do pub que ele queria utilizar nossas próprias luzes, mas o dono disse não. Fomos para casa. Nosso show de luzes era bem superior a qualquer coisa que eles tinham a nos oferecer.

Era simples mesmo. Nós bancamos um show inteiro. Se você não quer parte disso, não vai ter nada disso.

Mas olhando de volta, nada daquilo era realmente problema meu. Eu ainda estava fazendo isso por nada. Todos estávamos. Eu, Dave, Pete e Vic, éramos todos voluntários mesmo, porém mais e mais estava sendo cobrado da gente.

Se a verdade puder ser dita, e eu já menti para vocês alguma vez, caros leitores? Ninguém da equipe começou a ser pago até depois do lançamento do primeiro álbum, e todos fomos colocados num esquema miserável de £30 por semana, pegar ou largar. E agora a EMI estava se tornando o caso de Rod porque eles não estavam vendo os benefícios do dinheiro que haviam adiantado para a banda.

Não faço ideia do montante envolvido quando o Iron Maiden assinou a papelada e, sendo franco, não me importava na época e me importo ainda menos agora. Tudo o que sei é que o acordo foi bom o bastante para fazer as poucas pessoas do topo da árvore Iron Maiden, substancialmente felizes.



A gravação do primeiro álbum no Kingsway Studios ocorreu tão bem quanto podia, com um pequeno problema; a escolha de Will Malone como produtor. Não sei se Steve ou Rod já falaram sobre isso publicamente, mas, para mim, Will não foi a melhor escolha. Nem sei como encontramos esse cara.

Quando penso naqueles dias de tentativas de se encontrar alguém adequado que tivesse ouvidos para identificar como a música do Maiden deveria ser ou soar, então a escolha de Will Malone foi escolha errada. Se bem que poderia ter sido pior.

Lembro-me de ir a um estúdio com um produtor que havia gravado com uma banda punk, discursando sobre isso e aquilo... Pude perceber que Steve não estava ouvindo e, após deixar o cara falando por cerca de 15 minutos, Steve disse a Vic: "Se arrume, vamos para casa." E voltamos para casa.

Em outra ocasião, nos deparamos de frente com Andy Scott, da banda The Sweet. Agora isso teria sido brilhante se Andy pudesse se afastar do seu passado. Ele disse a Steve que poderia tirar um som melhor do baixo dele se Steve usasse uma palheta. Aquilo foi a última coisa que Andy disse para Steve já que, pouco depois, Steve disse a ele que estava demitido.



Então, nós terminamos com Will Malone e, como uma prova do tempo, o primeiro álbum recebeu status Ouro em todo lugar. Ainda não é o meu produtor preferido, mas que impacto. O álbum foi direto para as listas inglesas, atingindo o número 4, e nenhum de nós viu aquilo se aproximando.

Notem como os próximos álbuns tinham Martin Birch no leme. Infelizmente ele não estava disponível quando nos preparamos para fazer o primeiro álbum. Estou certo que teria ficado duas vezes melhor e tomado metade do tempo. Oh! E a propósito, o primeiro álbum foi gravado em menos de uma semana.

Para aqueles de vocês que gostam de tomar notas obsessivas, e eu sei que existem muitos por aí, enquanto gravávamos 'Iron Maiden', a BBC2 mostrou 'Lone Star' ao vivo em concerto e ouvimos a faixa 'Comfortably Numb' do vindouro álbum do Pink Floyd, ‘The Wall'. Aquele álbum veio a ser um favorito da equipe enquanto em turnê pela Inglaterra, para o desapontamento de Dave Lights.

Voltando um pouco na história, eu já mencionei a apertada limusine com a qual a banda apareceu. Ela tinha saído de uma das ideias de Vic. Ele tinha amigos no circuito de troca de motos (provavelmente essas mesmas pessoas aprontaram também a Green Goddess). Eles tiveram posse de dois carros similares, (desculpem , não consigo lembrar suas marcas ou modelos) e basicamente os decompuseram a um estado de limusine.

Admitidamente a banda somente usou ela por um tempo já que, sendo um carro grande, as estradas da Inglaterra não estavam preparadas para ele, mas era um carro bem confortável de se andar. Lembro-me de viajarmos todo o trajeto de Hackney a Cromer, apenas eu e Vic. E, como não dirijo, tive a escolha dos assentos. Só que não importava tanto. Os assentos eram confortáveis onde quer você sentasse.

A outra coisa que eu queria voltar a falar é de Rod, que não era nenhum Peter Grant (gerente do Led Zeppelin). A maneira com a qual ele costumava falar comigo e com Pete não seria tolerada nesses dias; de fato, de nove entre dez vezes ele teria tomado um tapa na boca.

Se não fosse por tipos como eu, Pete, Dave e Vic, essa banda que aconteceu de ele pegar quase de graça (minhas palavras, de ninguém mais) não teria ido a lugar algum próximo do que eles pretendiam. Nós saímos de nossos empregos, entramos em turnê por nada, e geralmente demos tudo o que tínhamos, incluindo aquele pouco dinheiro que tínhamos para pagar combustível, comida, bebida, o ocasional café & dormitório, e o que mais imaginarem.

Ele não se importava com seu bem-estar também. Torci meu tornozelo em Barcelona enquanto fora do ônibus de turnê. A reação de Rod foi "O que foi, porra? Você está exagerando de qualquer forma."

Eu sei que arrogância e ignorância andam de mãos dadas, e, onde eu vivo em Collier Row, Romford, é até um modo de vida. Mas ser tratado da maneira que ele nos tratava, era muito ruim, e eu sei que ele não aparece por aqui. Ou talvez ele tenha aparecido, em uma vida anterior. Isso explicaria muito...

Continua... 
Loopy's World (Parte 11) - Em Turnê

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