Produtoras de shows se unem contra meia-entrada



Por Matheus Magenta - Folha de S. Paulo

"As empresas de entretenimento ao vivo não estão se unindo porque se amam, mas porque precisam se fortalecer em conjunto. Com a meia-entrada, o Estado faz política pública com dinheiro privado."

A declaração feita à Folha de S. Paulo por Leo Ganem, presidente da Geo Eventos, se refere à criação, até o final deste ano, de duas associações no setor de eventos. Uma para as produtoras de shows e musicais e outra para as empresas que comercializam ingressos.

O benefício da meia-entrada, que chega a atingir 90% do total da bilheteria de grandes shows internacionais, é apontado como o grande vilão do setor. Para empresários e consumidores, o alto valor dos ingressos é o maior culpado por shows cancelados ou vazios. Caso da turnê da cantora pop Madonna, que se apresenta hoje e amanhã em São Paulo. Os ingressos variam entre R$ 150 e R$ 850 (inteira).

Ainda há ingressos para os 12 setores da plateia do show de amanhã (05/12), e em nove deles do de hoje (04/12). Para diminuir o prejuízo, a T4F, responsável pela turnê, reduziu o preço dos ingressos em até 50%.

MEIA-ENTRADA

As associações serão criadas a fim de reduzir a proporção de meias-entradas (seja por faixa etária ou por cota) nos eventos. Ou pelo menos conseguir que os governos arquem com parte do benefício.

Segundo a Geo Eventos, 90% dos ingressos vendidos até agora para os três dias do festival Lollapalooza 2013 são meias-entradas. Para o empresário Luiz Oscar Niemeyer, da Planmusic, a falsificação de comprovantes de estudantes torna a previsão da receita de um show "praticamente impossível".

"Para compensar, colocamos o preço da inteira mais alto. Quem acaba penalizado com isso são as pessoas honestas", diz Niemeyer.

Entidades de defesa do consumidor veem riscos para o público dos shows caso algumas demandas das novas associações sejam contempladas. Para Márcio Marcucci, diretor de fiscalização do Procon-SP, a limitação do número de meias-entradas nos shows não inibiria fraudes.

"As empresas devem aumentar o controle da comprovação do direito ao benefício, na venda e no acesso aos shows, e não buscar limitações para um direito consagrado. Seria um retrocesso."



CRISE À VISTA

O Brasil vive atualmente um crescimento acelerado do segmento de shows internacionais. Segundo levantamento feito pela Folha, o número de artistas e bandas estrangeiros triplicou neste ano em relação a 2010.

O cenário chamou a atenção de grupos de outros segmentos. Nos últimos anos, surgiram XYZ Live (do grupo ABC, de Nizan Guanaes), IMX (de Eike Batista) e Geo Eventos (ligada à Rede Globo).

O mercado estima que as cinco maiores empresas do setor movimentem entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano. A nova concorrência trouxe choques de agenda de festivais de música e elevou cachês a ponto de tornar alguns shows deficitários.

Para Bazinho Ferraz, presidente da XYZ Live, as novas associações podem servir de espaço para se firmarem "acordos de cavalheiros" e evitar o declínio do setor.

A T4F, maior do segmento de entretenimento ao vivo na América Latina e a única com capital aberto, foi a primeira a apresentar sinais de crise. Em comunicados a investidores, a empresa anunciou uma queda de 40% no número de ingressos vendidos entre janeiro e setembro deste ano (em relação ao mesmo período em 2011).

Segundo a T4F, o resultado negativo pode ser atribuído à distribuição dos shows ao longo do calendário (em 2011, as maiores rendas ocorreram no primeiro semestre). No comunicado, a empresa manifestava esperança de bons resultados financeiros com shows de Lady Gaga e Madonna. Ambas turnês tiveram ingressos encalhados. Com isso, o valor das ações da T4F caíram 10,29%.

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