Brave New World: O Livro de Aldous Huxley

Brave New World, o 12° álbum do Iron Maiden , lançado em 2000, foi o primeiro álbum de estúdio da banda após o regresso do vocalista Bruce Dickinson, marcando ainda o retorno do guitarrista Adrian Smith. O álbum contém dez faixas, entre elas: Blood Brothers, The Wicker Man, Ghost of the Navigator e a faixa título Brave New World.

É um álbum com um som mais progressivo, marcando ao mesmo tempo um retorno da banda às suas origens, com músicas que lembram trechos de temas dos álbuns Powerslave e Fear of the Dark. Porém, com mais instrumentos acústicos do que nos trabalhos anteriores da banda, o que não agradou a uma parte dos fãs. Este álbum foi sucedido por uma turnê mundial, que esteve no Brasil durante o Rock in Rio III e deu origem a um DVD e CD ao vivo.

A música Brave New World é baseada no romance de mesmo nome do escritor inglês Aldous Huxley, no texto a seguir confira uma resenha de Jefferson Luiz Maleski sobre o livro que inspirou Dickinson, Murray e Harris na composição da faixa título deste incrível disco do Iron Maiden.

Por Jefferson Luiz Maleski
Brave New World - Adimirável Mundo Novo

Admirável Mundo Novo (Brave New World - 1932) é um dos poucos livros que criticam sem atacar, sem ofender alguém diretamente, mas que atinge em cheio aqueles que utilizam minimamente os seus neurônios. Critica o prejudicial elevando-o hipoteticamente à sua extrema potência. Da mesma forma, defende o bom mostrando como seria a vida na sua ausência. E assim, desenha uma realidade alternativa - extrema? sim - mas lógica e possível.

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A estória narra um futuro sem famílias, democracia, cristianismo, arte e liberdade. O pouco que se conhece sobre isso são conceitos distorcidos e superficiais programados pelo Estado nos humanos desde o nascimento. Os nascimentos ocorrem massiva e industrialmente, como na linha de produção criada por Henry Ford. Ford inclusive é o grande representante desta evolução, adorado por todos: os cargos mais elevados são Vossa Fordeza, a cruz foi substituída por um T em referência ao Ford T, o primeiro carro fabricado em série, e expressões como "pneumática" são usadas como adjetivos pessoais.

O processo chamado Bokanovsky retira até 98 clones gêmeos de um mesmo óvulo fecundado, reduzindo as capacidades intelectuais e condicionando-os a trabalharem e consumirem submissos por toda a vida. Os seres humanos são separados geneticamente por classes, funções e capacidades. "Tal é a finalidade de todo condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social a que não podem escapar" (p. 14). A promiscuidade é a regra, "cada um pertence a todos" (p. 37), e serve também como forma de controle. "À medida que diminui a liberdade política e econômica, a liberdade sexual tende a aumentar em compensação" (Prefácio, XVIII). Assim, jogos eróticos são estimulados desde a infância e alguém permanecer muito tempo com o mesmo parceiro é um comportamento anti-social. Conseqüentemente, palavras como casamento, pai e mãe são piadas repugnantes. "Sessenta e duas mil repetições fazem uma verdade" (p. 44).

Todos os problemas são resolvidos através do Soma, uma droga legalizada e amplamente distribuída pelo Governo, para aliviar depressão, frustração, solidão e dúvidas. Demonstra que qualquer fuga da realidade patrocinada pelo Estado é mais prática e fácil que a resolução definitiva do problema. Para aqueles que vivem no país do futebol, carnaval e Big Brother's Brasil, nada mais verdadeiro.

A estabilidade na sociedade é alterada quando alguns Alfas (a classe mais privilegiada criada para os cargos de chefia) passam a questionar o sistema por causa de suas individualidades. Lenina Crowne porque gostava de repetir o mesmo parceiro sexual. Bernard Marx porque nasceu fisicamente menor quando todos eram "condicionados a associarem a massa corporal com a superioridade social" (p. 62). Com Helmholtz Watson era justamente o contrário: ele era melhor que todos em tudo o que fazia. Porém, em uma sociedade que estimula a padronização, ser diferente, melhor ou pior, não é visto com bons olhos. Estas diferenças se tornarão mais visíveis e relevantes quando o selvagem John (correspondente a um citadino normal na época em que o livro foi escrito) é retirado de uma Reserva Selvagem fechada e levado à civilização. John aparece praticamente na metade do livro, mas é o personagem principal. Ele tenta ensinar o amor, a liberdade e o desejo através de citações de Shakespeare, todavia em vão. Apesar de suas palavras não surtirem efeito, são as suas ações (ele passa a ser observado como se fosse um animal falante) que afetarão os ao seu redor.

Escrito em 1932, antes da 2ª Guerra Mundial, como uma crítica à produção em massa (Fordismo) aplicada aos humanos e ao controle governamental sobre a liberdade individual, se feitos alguns ajustes temporais pertinentes, pode muito bem servir como crítica ao modo coletivo de vida atual. Principalmente a parte relacionada à fuga da realidade através dos prazeres e ao consumismo irracional. Huxley talvez ainda não conhecesse a manipulação das massas pela mídia, pois deixa transparecer que os repórteres não eram controlados pelo Estado.

Se você é daqueles que tem pregüiça de ler um livro quando este já saiu em filme, saiba que das duas adaptações que fizeram dele para o cinema, uma (de 1980) não se encontra mais disponível e outra (de 1998) é uma versão alternativa dos roteiristas que foge tanto da trama original que se torna uma estória totalmente diferente, apesar da participação de bons atores como Leonard Nimoy e Peter Gallagher. Algo feito com baixo orçamento e nenhuma fidelidade ao livro.

O título do livro é uma fala retirada de A Tempestade de Shakespeare que diz "O wonder! How many goodly creatures are there here! How beauteous mankind is! O brave new world, that has such people in't" (p. 133). O livro traz ainda o prefácio do autor escrito em 1946 em que um Huxley mais maduro analisa os defeitos e os acertos de sua estória. A técnica de mudanças rápidas entre cenas utilizada por Huxley me surpreendeu bastante, chegando ao ponto de no final do capítulo III apenas uma frase ser dita por personagens diferentes mesclando três cenários simultâneas. Quase dá um nó no cérebro não perder quem está dizendo a frase, pois o interlocuor somente é identificável pelo conteúdo da sentença.

Admirável Mundo Novo, junto com 1984 de George Orwell, Fahenheit 451 de Ray Bradbury e Laranja Mecânica de Anthony Burgess, é um clássico sobre o controle, o futuro e a liberdade. A meu ver, uma leitura obrigatória.

Publicado Originalmente
http://jefferson.blog.br