Metal Invicto: Entrevista de Bruce ao Estadão!

Bruce Dickinson concedeu ao Jornal O Estado de São Paulo ( Estadão) de domingo uma breve entrevista. Nela o vocalista fala de como em época de crise no mercado fonográfico o Iron Maiden permanece um fenômeno.

METAL INVICTO
Por Roberto Nascimento - O Estado de S.Paulo

Um manual de sobrevivência para esses conturbados tempos da indústria fonográfica poderia ser encomendado ao Iron Maiden. Na capa, em negrito, algo como "os segredos da única banda de heavy metal que ainda vende 800.000 discos em uma semana", seria o chamariz.

Como poucos grupos de grande porte que navegam fora do mainstream, os veteranos metaleiros são praticamente imunes ao declínio de vendas na era do download. O fato foi comprovado em 2010, com o lançamento do disco The Final Frontier, que se manteve no topo de paradas da Arábia Saudita à Europa, ao Japão, vendendo um número de cópias para Jay-Z nenhum botar defeito.

As providências mais básicas tomadas pelo Iron - turnês ostensivas e qualidade de merchandising, termos na ponta da língua de qualquer manager de sucesso - estão no repertório da banda desde o início, há mais de 30 anos, quando, por não conseguir espaço para suas canções longas e pesadas nas FMs, o grupo naturalmente gravitou em direção às turnês para promover seu som. Chegaram, em 1984, a fazer uma média de mais de um show a cada dois dias. Hoje em dia, os cinquentões ingleses, que tocarão em São Paulo no sábado que vem, além de outras cinco datas no País, fazem uma apresentação a cada três dias.

"Nós nunca aparecemos em programas de TV ou tomamos parte em qualquer divulgação na grande mídia, em publicações como o National Inquirer e esse tipo de baboseira. O nosso público aprecia isso. O que gostamos de fazer é tocar e compor, então fazemos turnês", explica Bruce Dickinson, vocalista do Iron desde 1981, em entrevista telefônica ao Estado.

Mas a grande sacada da banda, a que garante que os fãs conquistados em todos esses anos ainda irão à loja de discos para comprar seus álbuns, chama-se Eddie, a caveira-mascote que figura em todas as capas de discos. Em uma época em que o merchandising (vendas de camisetas, pôsteres e xícaras de chá) chega a 20% do faturamento de uma banda e o Radiohead lança King of Limbs acompanhado de 625 miniaturas artísticas para prevenir o download ilegal, o conceito Eddie garante, como faz há décadas, o sustento do Iron Maiden em suculentas edições especiais com arte caprichada e cópias em alta definição.

"O Eddie tem nos ajudado muito desde que tivemos a ideia de recriá-lo em todas as nossas capas", explica Dickinson. "Além disso, ele é uma espécie de fantasia, porque nenhum de nós está interessado em ser famoso. Se pudéssemos ser completamente invisíveis e as pessoas só comprassem discos do Iron Maiden e nunca ligassem para quem está na banda, eu ficaria muito feliz. Não gosto de ser reconhecido. Mesmo no palco, gosto de ser invisível. Isso é impossível, tenho de aceitar isso, mas o Eddie nos ajuda muito porque ele pode fazer todas as loucuras que os roqueiros supostamente fazem. Fora do Iron Maiden, somos pessoas praticamente anônimas. Tudo o que fazemos tem a banda como foco", conta o cantor, cujos vibratos operísticos o fazem figurar como uma das vozes mais influentes do heavy metal tradicional, som que primava por guitarras barrocas, ritmos cavalgantes e letras macabras antes de enveredar pelo peso absoluto.

Mesmo sendo referência em termos de técnica (um vídeo no YouTube mostra trechos de canções que abrangem quatro oitavas de alcance vocal), Dickinson não é cria de conservatório. "Aprendi tudo o que sei de ouvido, como autodidata, ouvindo discos do Deep Purple, Arthur Brown, Peter Hammill do Van der Graaf Generator, Ian Anderson do Jethro Tull, um pouco de Ozzy e Robert Plant", conta. Quando não está à frente do grupo, entoando pérolas do metal como Number of the Beast, The Trooper e 2 Minutes to Midnight, Dickinson luta esgrima, apresenta programas de TV sobre história militar e fenômenos ocultos e trabalha como piloto e diretor de marketing de uma companhia aérea. "Todos esses interesses se transformam em canções do Iron Maiden. Mas também piloto o avião que transporta a banda e estou com o meu equipamento de esgrima para praticar nas horas vagas", explica o cantor que já foi sétimo colocado em uma competição nacional na Inglaterra e apresenta uma série de programas que incluem episódios hilários sobre combustões espontâneas (com a sutil sugestão de que um prato de feijão seria a causa dos fenômenos), test drives de tanques russos e os efeitos de uma explosão de gás metano.

Conspiração. A abertura do Iron Maiden, no Estádio do Morumbi, sábado que vem, será feita pelo Cavalera Conspiracy, banda que reuniu os irmãos Igor e Max Cavalera uma década depois de brigarem por causa do gerenciamento do Sepultura. "A gente voltou a se falar, mas eu estava desencanado de tocar", conta Igor, considerado um dos melhores bateristas de metal do mundo. "Max teve de me conquistar, como uma garota. Pago muito sushi", revela. A banda lançou o segundo disco, Blunt Force Trauma, este mês. "O que nos junta é uma mistura de hard com metal. Ele é bem mais simples, mais direto do que eu. Enxergo as coisas de modo mais experimental", conta.

Fonte: Estadão