Paul Di'Anno: nos anos 2000, seus planos eram de se mudar e empreender no Brasil


Uma mais das conhecidas características de Paul Di'Anno é sua dificuldade em criar raízes e fixar residência. De tempos em tempos ele surge morando em um país diferente: pode ser na Inglaterra, nos Estados Unidos, em algum país do leste europeu ou mesmo no Brasil.

Sua relação com o Brasil é mesmo um caso de amor - ainda que a distância. Paul tem duas filhas brasileiras, hoje adolescentes. Aprendeu a falar algumas palavras em português quando morou em São Paulo (dizem que sabe bem os palavrões) e virou torcedor fanático do Corinthians.

No lado musical, quando morou por aqui, gravou um disco de nome justamente "Nomad" (2000), pelo grupo DI'ANNO, contando com os brasileiros Paulo Turin (guitarra, BATTLEZONE), Chico Dehira (guitarra, KARMA), Felipe Andreoli (baixo, ANGRA, KARMA, ex-ALMAH) e Aquiles Priester (bateria, ex-ANGRA, ex-HANGAR, ex-NOTURNALL). Anos depois montaria outro grupo, também só com brasileiros, o ROCKFELLAS, voltado para tocar covers de metal e rock clássico, ao lado de Canisso (ex-RAIMUNDOS), Marcão (CHARLIE BROWN JR) e Jean Dolabella (ex-SEPULTURA).

Mas tem uma história que pouca gente conhece sobre Paul Di'Anno: lá em meados dos anos 2000, sua ideia era de fixar residência no Brasil e de empreender por aqui.

Essa história está registrada no livro "Empire Of The Clouds: Iron Maiden Nos Anos 2000" (2023), escrito por Martin Popoff e lançado pela Editora Denfire.

"Mas Paul queria acabar com seu estilo de vida nômade, bem como resolver problemas legais que o impediam de entrar nos Estados Unidos. "Provavelmente voltarei ao Brasil em definitivo, seja no final do ano que vem ou talvez no início do ano seguinte. Tenho minha namorada lá, uma família e outras coisas, então tenho que voltar por isso. Além do mais, lá é muito mais quente do que a Inglaterra. E nós temos algumas de nossas raízes do Brasil em primeiro lugar. Eu absolutamente amo esse país. Falo um pouco de português (risos). A questão é que sou muito preguiçoso. Até dá pra enganar bem. Mas quando minha namorada e eu estamos juntos, ela fala o maldito inglês! E isso me dá nos nervos. Ela entrou nessa sem nenhuma experiência e não sabia falar nadinha de inglês, e agora está trabalhando nos Estados Unidos há um ano e teve que aprender. Está praticando o inglês, mas deveria estar me ensinando o português."

"Temos uns pequenos negócios em andamento", continua DI’ANNO, dividido, ao que parece. "Há um pequeno hotel e pub que tocamos aqui em Salisbury. Possuo a franquia de restaurante, então faço muito trabalho nesse ramo. Temos esse e planejamos abrir outro. Quero tentar abrir um restaurante no Brasil. Eu e o Paulo (nota: o livro não cita, mas tudo indica que seja o guitarrista Paulo Turin) temos boas ideias para a internet. Mas basicamente vamos tentar obter alguma ajuda do governo nisso. Queremos montar... Bem, vamos ter que começar em São Paulo e depois espalhar para outras cidades, para pessoas de dezesseis a cinquenta e cinco anos, para educá-las, treiná-las em TI para que tenham uma chance melhor de conseguir um emprego. Porque não há assistência social no Brasil. Se não tiver dinheiro, você morre, basicamente. Então, estamos tentando torná-las versadas em computadores ou, pelo menos, treinadas e alfabetizadas para dar-lhes uma chance e tirá-las dos guetos e das favelas."

"Estamos tentando retribuir um pouco. Paulo e eu tivemos essa ideia de criar e depois encorajá-las, e então darmos a elas algo como vinte e cinco dólares por mês. Sei que não parece bastante, mas é muito dinheiro no Brasil. Obviamente, para fazer isso, temos que colocar grandes quantias de nosso próprio dinheiro, algo como alguns milhões cada um, e depois ver se podemos persuadir o governo a nos apoiar com o resto. De todos os países sul americanos, o Brasil é provavelmente um dos melhores e mais tolerantes, mas nem sempre (risos). Será uma trabalheira dos infernos lá e vai começar em pequena escala, mas se 30 pudermos fazê-los se interessar, podem aplicar na maioria das cidades. Eu não sei como diabos vamos fazer isso, mas temos que resolver isso para que tantas pessoas possam contribuir, talvez vinte e cinco pessoas por dia em vários níveis. Vai dar muito trabalho por lá. Ainda estamos tentando resolver a logística"

Pesquisando sobre seus negócios fora da música, não há muita informação disponível. Segundo o Wikipedia, Paul foi mesmo proprietário de um cybercafé e um hotel/restaurante que foram vendidos, sem mais detalhes disponíveis. A má situação financeira do ex-Iron Maiden, que se arrasta a uns bons anos, essa sim é pública e bem conhecida.

Quanto ao treinamento em TI, parece que foi mais uma vontade de ajudar do que um negócio em si, afinal não se colocam "alguns milhões" em nada sem um bom planejamento, mesmo com fins nobres. Pelo menos para a maioria das pessoas, já com Paul Di'Anno, tudo é possível.


Disponível para venda no site da Editora Denfire, "Empire Of The Clouds: Iron Maiden Nos Anos 2000" (2023) contém 196 páginas em papel couchè 115g. Acompanha um card 21 x 15 cm com a divulgação do single "The Wicker Man" e ainda um adesivo do British Lion.

Por: Mário Pescada | Whiplash.Net