Resenha: Iron Maiden em São Paulo - Morumbi - 06/10/2019


Por Everaldo Junior

Qual o motivo senão paixão a ter visto 32 shows do Iron Maiden em 15 países diferentes? Assim como eu, há muitos que fazem isso ao redor do mundo, o que faz ainda mais verdadeiras e proféticas as letras da canção Iron Maiden, que vai te pegar, não importa onde estejas. E é verdade. Assim como eu, o Iron Maiden pegou metade do globo terrestre por pura paixão. Um show do Iron Maiden não é apenas um show. É um culto, quase. Ou um jogo de futebol. A diferença é que todo o público torce a favor. Sim, o Iron Maiden é uma entidade e a magia só cresce ao longo dos anos.

Moro no Canadá e, além de rever amigos e família, vim ver os três shows dos bons e velhos britânicos no Brasil. Ontem, no Morumbi, com uma credencial cedida por nosso amigo Igor desse já lendário Iron Maiden 666 em parceria com o pessoal da Midiorama, tive o privilégio de acompanhar a catarse metálica que aconteceu no último domingo no Morumbi em São Paulo. Já havia visto shows entupidos lá como Roger Waters, AC/DC, Metallica e Pearl Jam. Mas nenhum deles estava completamente abarrotado como este do Iron Maiden. Que me perdoem as outras bandas – que são fantásticas, mas nenhuma banda gera um sentimento de paixão, lealdade e devoção como o Iron Maiden. E, acredito eu, a esta altura do campeonato, com esse mundo cada vez mais robotizado, nenhuma outra conseguirá chegar perto...

Pontuais como sempre, poucos minutos depois das 20h, a destruição começou com o vídeo do game Legacy of the Beast (sim, o Iron Maiden te pega pela música e por games de app – não adianta se esconder, onde quer que esteja, o Iron Maiden vai te pegar) nos telões seguido da tradicional música de abertura “Doctor Doctor” do Ufo. Após o igualmente discurso histórico e britânico de Winston Churchill, uma réplica em tamanho real de um Spitfire da Segunda Guerra mundial invade o palco pra iniciar o show com Aces High. Bruce, caracterizado como piloto de combate, são os ingredientes perfeitos pra, logo na abertura, matar do coração metade das quase 70 mil pessoas presentes.

Seguindo a temática de guerra do palco com avião bombardeio, Bruce de piloto, trincheiras e florestas, o vocalista aparece com outra roupa de guerra pra dar sequência a fantástica Where Eagles Dare, não tocada desde 2005 e nunca no Brasil. Um clássico absoluto. Uma performance vocal extraordinária de Bruce e uma levada de bateria que garantiu o lugar de Nicko McBrain na história como um dos maiores da história. No auge dos seus 67 anos, as famosas viradas dessa canção, ainda são executadas com maestria.

2 Minutes to Midnight, com mais uma troca de figurino, the Trooper com mais uma – a entrada do mais bem feito Eddie até então, uma bandeira do Brasil como escopeta, The Clansman, com uma guerra de espadas e, mais um figurino, encerram a primeira parte do show e seu cenário e temática baseados inteiros na segunda guerra mundial. Sem deixar as pessoas respirarem ou se darem conta da suas caras hipnotizadas, o palco vira uma catedral Maidenizada e as pessoas aderem à religião Iron Maiden com outro clássico absoluto do igualmente clássico Piece of Mind. Revelations traz mais lágrimas ao enorme público presente e, é claro, mais uma troca de figurino do Bruce. Como o próprio vocalista avisou. Se as pessoas disseram que o show do Rock in Rio, dois dias antes, havia sido o melhor do festival carioca, o show de São Paulo seria o melhor de todos os do Brasil até então. O empolgado e velho britânico de 61 anos não estava errado...

For the Greater Good of God, avança de 1983 pra 2006 pra fase mais progressiva da banda. E aqui chegamos a um ponto fraco do show. Embora a música seja fantástica e muito bem executada, talvez o fato dela ter quase 10 minutos e não ser muito popular, faz o show esfriar um pouco. Uma excelente canção mas que não funcionou ao vivo. Ao menos não nesta turnê. Talvez por isso, Wicker Man venha na sequência e acorde o público de novo trazendo muito boas recordações da volta de Bruce e Adrian que já completou incríveis 20 anos! Sign of the Cross traz uma das maiores obras primas do Iron Maiden (apesar de ter sido composta na fase Blaze Bayley), uma épica produção de palco com fogos e pirotecnia e mais uma, mais uma, troca de figurino do incansável vocalista.

Flight of Icarus desenterra um clássico absoluto que ficou longe do set list ao vivo por longos 36 anos!!! Bruce não aparece com figurino novo nesta, porém, a lá Chuck Norris, ele aparece com um lança chamas!! Assim como um Icarus gigante de fundo que despenca palco abaixo ilustrando perfeitamente a canção quando queima suas asas ao tocar o sol. Fear of the Dark vem pra enxugar as lágrimas dos marmanjos, crianças e todas as espécies de tribos presentes no Morumbi. E é claro que, mais uma vez, mais um figurino pro Bruce. Com direito à máscara e candeeiro. The Number of the Beast e Iron Maiden, infelizmente, vem pra lembrar que o show vai chegando ao seu final. Com mais fogos, novo figurino (Bruce completamente em couro), candelabros, chamas, fogos e um segundo Eddie gigante, a catarse britânica vai chegando à sua reta de chegada...

The evil that men do, Halloweed be thy name e Run to the Hills completam o bis que finaliza o show. É inegável que Bruce não corre mais como antes (o vocalista rompeu o tendão de Aquiles antes do início dessa turnê e precisa ser mais comedido com movimentos bruscos. Se romper de novo, ele sai carregado do palco e a turnê se encerra – embora já esteja no seu final), não segura as notas de forma tão longa. Mas ao mesmo tempo, com 61 anos de idade, ainda preserva uma energia fantástica, uma voz incrivelmente forte e, juntamente com o resto da banda, ainda consegue entregar um espetáculo que nenhuma banda no mundo consegue.

A idade traz suas limitações mas esses senhores ingleses caminham firmes e fortes pros 70 anos com dedicação, energia, carisma que nenhuma outra banda no mundo consegue chegar perto. E jamais chegará. O Iron Maiden é uma força da natureza. Uma espécie única nesse espaço e tempo que vivemos. Quem está neste planeta e tem o privilégio de presenciar estes senhores, pode-se considerar privilegiado por ter a sorte de viver essa lenda viva. Ainda forte. Ainda imbatível. Saúde e longa vida ao bom e velho Iron Maiden...

Up the fucking Irons!