The number was just the beginning...



Por Eduardo Neves
Publicitário e baixista do Anno Zero

Em 1986 eu tinha 11 anos de idade. O Iron Maiden já havia lançado o “The Number of The Beast” há quatro anos e a essa altura já era uma banda mundialmente famosa. Eu não fazia ideia disso. Na verdade, nessa idade eu estava muito mais interessado em nomes como John Buscema, um dos desenhistas de “Conan”, ou Frank Frazetta, um dos desenhistas da revista de terror “Krypta”. Eu devorava HQs e lia compulsivamente tudo que fosse relacionado a terror, fantasia e ficção científica. Meu interesse por música era casual. Lembro que gostava dos Titãs e do RPM e tinha visto alguma coisa do Rock In Rio na TV.

No final do ano, como de costume, fui passar as férias em Salvador. Em uma visita ao Shopping Iguatemi, passamos em frente a uma loja de discos. E, de relance, eu vi aquele desenho. Uma espécie de zumbi enorme, com um céu sinistro ao fundo, controlando o Diabo como se fosse uma marionete. Parei imediatamente e entrei para olhar. O logotipo “Iron Maiden”, em letras pontudas, me pareciam facas. O título “The Number of The Beast”, naquelas letras sangrentas, era simplesmente fantástico. Pedi pra minha mãe a grana pra comprar o disco e ela topou.

Quando cheguei em casa, fiquei olhando praquela capa um tempão. Não me cansava de admirar os detalhes, as cores. Então, fui ouvir. Cara, aquilo não era nem de longe parecido com RPM ou nada que se apresentasse no Chacrinha. Era diferente de tudo que eu conhecia ou que tivesse ouvido. A cada música que começava, a surpresa era maior ainda. A atmosfera era exatamente como a da capa, diabólica, apocalíptica... mas estranhamente bela, artística. A foto da contra-capa, com os caras de jaqueta de couro e Bruce apontando pra você, dava uma sensação de que aquilo, de certa maneira, te separava das outras pessoas. Era um chamado.

Hoje o “The Number of The Beast”, ou simplesmente “o Number”, como o chamo, completa 30 anos de lançamento. Esse disco não apenas me fez gostar de heavy metal e ficar fã do Maiden; ele foi o início de todo o meu interesse verdadeiro por música. A partir desse álbum, busquei outros da Donzela, como o “Killers”, que comprei logo em seguida e hoje é um dos meus preferidos. Conheci as bandas clássicas, como Black Sabbath e Led Zeppelin. Me aprofundei nos Beatles, que minha mãe já ouvia em casa junto com Roberto Carlos; troquei correspondência com zineiros de todo canto do mundo e ouvi toneladas de demo-tapes de tudo que é estilo; gravei fitas k-7 até não ter mais lugar pra guardá-las; entrei de cabeça nos sons extremos do thrash e death metal; me encantei com as viagens do Floyd e Yes - e enjoei assim que ouvi Ramones e Motörhead; conheci alguns dos meus melhores amigos; aprendi a gostar de jazz e respeitar a MPB; e toquei (ainda toco) meu próprio rock’n’roll, feito em parceria com gente que viveu o mesmo sonho.

Por tudo isso, só posso terminar esse texto com uma frase: valeu, mãe.