O site Poucas e Boas da Mari entrevistou o harpista rioclarense Jonathan Faganello. Faganello tem um diferencial: toca Heavy Metal na harpa. “O fato de eu ter um estilo diferente quebra aquele paradigma de que o harpa só toca música clássica ou música natalina” conta o harpista, que começou a tocar aos 11 anos de idade. Apesar de jovem, o músico tem uma extensa carreira, já participou de vários festivais nacionais e internacionais, já atuou na orquestra Filarmônica de Piracicaba (SP) por várias ocasiões e possui dois projetos o Burning Symphony, onde executa clássicos do Rock e Heavy Metal e o Celtic Charm´s, onde toca músicas de raízes celta, em parceria com a cantora lírica Débora Letícia. Além do seu site, o trabalho de Jonathan pode ser apreciado no site Youtube, onde há vídeos seus com mais de um milhão de visualizações!
Jonathan, sua história com a música começou cedo: violino aos seis anos, a harpa aos 11. A experiência com a música clássica chocou com o Heavy Metal, seu estilo preferido, que você transportou para a harpa. Como foi esse processo?
Em 2007 mais ou menos havia tirado a música Fear of the Dark, da banda Iron Maiden, mais por brincadeira, para tocar algo diferente. Em 2008, em uma tarde de domingo na cidade paulista de Presidente Prudente (onde cursei o primeiro ano de Educação Física na Unesp), no intervalo de um jogo do campeonato paulista meu amigo pediu para tocar Fear. Ele gravou em seu celular e em seguida foi para o quarto. Alguns minutos depois ele voltou e disse: Agora você está no You Tube. Esse foi start de tudo. A quantidade de acessos cresceu muito rápido e pessoas pedindo mais músicas, fizeram com que eu começasse a fazer mais isso.
Acredita que tocar Heavy Metal na harpa populariza o instrumento?
Acredito que sim, pois ainda é muito comum encontrar pessoas que dizem nunca ter visto uma harpa na frente. O fato de eu ter um estilo diferente na harpa quebra aquele paradigma de que com o instrumento só se toca música clássica ou música natalina. Ao tocar Heavy Metal na harpa, minha intenção é tentar unir quem gosta do som da harpa e quem gosta do peso do metal.
Já sofreu alguma crítica de músicos mais conservadores por tocar Heavy Metal na harpa?
Crítica não. A maioria dos harpista e músicos em geral apoiam meu trabalho e elogiam meu diferencial. Apesar que alguns amigos harpistas não são muito fãs de Rock’n’Roll, são mais do MPB.
Você estudou harpa sinfônica, instrumento de alto custo, e domina harpa paraguaia. Qual é a diferença entre as duas? E qual o motivo do alto custo da harpa sinfônica?
As diferenças entre elas são muitas. A harpa paraguaia é bem mais leve (8 kg) com 36 cordas (o comum) de naylon e devem ser tocas com as unhas. Já a harpa sinfônica é bem mais pesada (25 kg a mais leve), as cordas são de tripa e de aço e devem ser tocas com a ponta dos dedos. Ela possui 47 cordas (há harpas com 40 cordas) e sete pedais que são responsáveis pela mudança tonal. A disposição das cordas também é oposta, na harpa paraguaia a corda vermelha é o FÁ e Azul é o DÓ. Já na harpa sinfônica o vermelho é o Dó e ao invés de azul é preto o Fá, assim como o espaçamento entre as cordas também é diferente. A harpa sinfônica é um instrumento magnífico, com ilimitados recursos sonoros devido aos pedais que ela possui, uma mecânica de precisão incrível, um acabamento perfeito (feito a mão), com madeiras da alta qualidade. Porém acredito que o grande responsável pelo alto custo do instrumento em nosso país são as taxas de importação cobradas (60% do valor do instrumento). Uma harpa paraguaia de ótima qualidade custa em torno de 8 mil reais, enquanto que uma harpa sinfônica simples é aproximadamente 14 mil dólares.
Você está à frente de dois projetos paralelos: o Burning Symphony, onde executa clássicos do rock e heavy metal e o Celtic Charm´s, onde toca músicas de raízes celta, em parceria com cantora lírica Débora Letícia. Como é mergulhar na cultura celta? Há necessidade de muito estudo, de muito aprofundamento? Ou a leitura da partitura já basta?
A cultura celta é magnífica. Sempre fui muito ligado a filmes que retratavam esse período da história como Coração Valente e filmes de fantasia, como O Senhor dos Anéis. Quanto a literatura, contos celtas e nórdicos sempre foram os meus preferidos. Você pode tocar uma música celta muito bem lendo uma partitura, porém acredito que quando você conhece a história celta, sobre a origem da música (as músicas celtas sempre têm uma história, seja ela do grande bravo que venceu inúmeras batalhas até a lavadeira de roupas) e incorpora sua essência, ai sim você está mais que tocando uma música, está transmitindo uma cultura, um sentimento.
O seu trabalho está disponível no site You Tube, há vídeos seus com mais de um milhão de visualizações. É inegável o papel da internet na vida dos músicos. Mas a internet não é “só flores” na vida dos artistas, pois muitas vezes ultrapassa os limites dos direitos autorais. Você já teve algum problema com isso? Ou a internet foi um canal 100% positivo na divulgação de seu trabalho?
Felizmente até agora não tive nenhum problema com relação à internet. O que acontece é um comentário ou outro do tipo “hum… harpa é coisa de mulher“. Mas eu nem ligo, absorvo apenas críticas construtivas, as que me ajudam a melhorar o meu trabalho.
Continuando com o assunto internet… Está circulando na rede uma campanha para você tocar no Rock in Rio 2011. A iniciativa partiu do fotógrafo carioca Sérgio Ricardo, que conheceu o seu trabalho no Rio Harp Festival e se encantou com a sua habilidade. Qual é a expectativa em relação a essa campanha?
Sei que o sonho de tocar no Rock in Rio não é fácil. Porém nossa ideia é fazer os organizadores do evento verem meu trabalho. Por isso sempre peço a ajuda de todas as pessoas que conheço para me ajudarem na campanha. Mas se acaso me chamarem nem que seja pra tocar uma música, não sei nem como vai ser minha reação. Só sei que vou fazer meu melhor e representar bem o povo de Rio Claro e Região.
Li em uma matéria do site Guia Rio Claro, que algo que você gosta muito de fazer é tocar em hospitais e para crianças. Você acha que artistas têm que ter obrigação com o social? Qual é o sentimento em levar a beleza musical para esse ambiente e esse tipo de público?
Obrigação não acho que seja a palavra certa, mas seria muito importante para que outros artistas não se esqueçam do público que não pode ir até os espetáculos para prestigiá-los, e que levem até eles o espetáculo. Em Presidente Prudente toquei muito na Santa Casa. Tocava na Hemodiálise, Coronária, UTI, Pediatria, onde havia várias crianças que eu deixava brincar com a harpa e os quartos coletivos. Eu ia um por um tocando para as pessoas. E foi o lugar, onde eu ouvi uma das frases que mais fizeram meu trabalho valer a pena. Um senhor me disse: “você hoje me provou a existência de DEUS e que anjos também existem”.
Vejo o quanto é importante estarmos ao lado das pessoas quando elas estão enfermas ou esquecidas (como é o caso de asilos) levando um pouco dos bons sentimentos através da música. Entre o céu e terra existe um espaço chamado MÚSICA.
Assista a mais vídeos e saiba um pouco mais sobre Jonathan Faganello no site oficial do músico.
http://www.jonathanfaganello.com.br