Adrian Smith: "nos chamavam de adoradores do diabo, mas não era verdade"



Em entrevista para o Las Vegas Weekly, o guitarrista Adrian Smith falou sobre a The Book Of Souls World Tour, sua carreira com o Iron Maiden e os 35 anos de "The Number Of The Beast".

A conversa com Matt Wardlaw porém, começou com uma crítica do guitarrista: "O Iron Maiden não é uma máquina. Você vê hoje em dia bandas jovens bem-sucedidas, e o som deles é incrível. Mas se você realmente ouvi-la, é quase como que feita pelo computador, é tudo muito perfeito. Você só se pergunta se aquilo é real ou não é. Conosco é muito real e sem usar nenhum truque. Você faz tudo com sangue e suor. É um lance de verdade!"

Las Vegas Weekly: Ao ouvir músicas como "The Red and the Black", faixa do último álbum, me parece que seria realmente muito legal tocá-la ao vivo. 

Ela é incrível! Você precisa estar muito preparado para músicas de 13 minutos (como essa). É uma canção muito grande para executar ao vivo, mas é muito divertida ao mesmo tempo, e possui mudanças suficientes o que a torna interessante. É certamente um desafio tocar todas as noites.

Las Vegas Weekly: Com um novo álbum duplo e tantos clássicos entre as favoritas dos fãs, deve ter sido um processo muito complexo escolher o setlist para esta turnê.

Sim, para o clássicos, o conjunto da obra geralmente escolhe por si mesmo. "Fear of the Dark" sempre foi popular ao vivo. "Iron Maiden", nós sempre tentamos não tocar, mas não tem jeito. Acho que tocamos essa em todos os shows que fizemos com a banda. Então, algumas músicas estão presentes por si só no setlist. É da mesma forma para um álbum. Posso dizer quando estamos ensaiando e escrevendo um álbum, que tal música vai ser uma grande canção ao vivo.

Las Vegas Weekly: Já se passaram mais de 40 anos desde que o baixista Steve Harris começou a montar a banda, e ano passado o Iron Maiden procurou novos lugares para visitar. Quão surpreendente é,  quando você percebe que há um território ainda inexplorado lá fora?

Nunca tinha pensado em tocar em Dubai e não achava que haveria algum motivo para irmos à Índia. Mas você sabe, há muitos garotos que amam metal. Nós fomos para a China, e isso foi ótimo. A plateia estava simplesmente enlouquecida. Por isso, é ótimo expandir seus limites e visitar novos lugares.

Las Vegas Weekly: The Book of Souls é o quinto álbum com o produtor Kevin Shirley. O que ele acrescenta para a banda e o que você realmente gosta?

Ele é da velha guarda. Gosta de gravar ao vivo. Sempre gravamos ao vivo, realmente. Gravamos com todos tocando juntos, e então nós usamos overdubs, refazendo as guitarras e os vocais. Mas agora, é praticamente ao vivo. Nós consertamos algumas coisas e fizemos overdubs e é isso. Como já fazemos isso durante um tempo, você meio que já sabe o que está fazendo, e apenas tenta adaptá-lo na gravação. Mas você ainda está tocando pras quarto paredes quando está no estúdio, e isso é sempre um problema. Você está ali tentando dar vida e energia mas não tem nenhuma plateia para tocar,  pois a banda só prospera mesmo, na frente do público. Esperamos que isso funcione às vezes.

Las Vegas Weekly: Como é estar no Iron Maiden ao longo de 35 anos, e como você tem visto as mudanças na banda desde o início dos anos 80?

Quando entrei pela primeira vez, não podia acreditar na energia deles e o quão rápido eles tocavam as músicas. Era pura adrenalina, energia, testosterona. Fomos para o palco e só fomos pra isso. Acho que agora estamos um pouco mais comedidos. Gostamos de dar um pequeno espaço entre as músicas para que todos possam se expressar dentro da estrutura da música. Há mais de respeito pelas outras pessoas.

Quando envelhecemos, você dá mais espaço para as pessoas, lhes dá um pouco mais de respeito, você passa a considerar a forma como estão se sentindo. Eu acho que você se depara com isso. Mas quando nós chegamos neste estágio, alguns dos velhos sentimentos vem à tona as vezes e ainda sentimos obstáculos entre as canções. Eu gosto de dizer que isso está poderosamente controlado agora. Esse é meu lema pro show: “Mantenha-se poderoso, mas controlado".

Las Vegas Weekly: É impressionante para mim que a banda ainda possa se expressar dessa maneira e manter essa intensidade.

Bruce é incrível, uma força da natureza. Ele tem muita energia. É abençoado com isso. Steve gosta de jogar tudo pra cima e arrebentar o quanto ele pode, e estou sempre tentando puxá-lo de volta um pouco. É empurrar e puxar, sabe....

Las Vegas Weekly: A turnê vai até o fim de julho. O que há em mente depois disso? Que tipo de conversa vocês têm tido sobre o próximo álbum a partir desse ponto?

Se quisermos, podemos fazer outro álbum ou tocar outras coisas. Ainda não sei. Nós não temos falado sobre isso.



Las Vegas Weekly: Este ano marca o 35º aniversário do álbum "The Number of The Beast". O que vem à mente quando você olha para trás sobre a experiência de escrever e gravar esse disco? Foi o seu segundo álbum com a banda, o primeiro com Dickinson. Havia muita coisa acontecendo. 

Sim, houveram muitas mudanças. Éramos um tipo de banda em ascensão, ainda tentando fazer seu nome na América. Parece tão recente, mas já tem muito tempo.

Eu comecei a escrever um pouco pra esse álbum e comecei  a me expressar um pouco mais. Steve se preocupava mais com coisas maiores, obviamente, a faixa-título. Foi um álbum forte. Nós gravamos em Londres, e não fizemos isso outra vez por muitos anos.

Las Vegas Weekly: Você teve a sensação de que estava fazendo um álbum que teria de fato um grande impacto?

Ele criou um pouco de agitação, para dizer o mínimo; especialmente naquela época na América. As pessoas estavam nos chamando de adoradores do diabo, e nada poderia estar mais longe da verdade. Eramos uns caras simples de Londres, ao menos até onde eu sei.