Steve Harris: "Ainda temos muita coisa boa pela frente"



O baixista e líder do Iron Maiden, Steve Harris conversou com o G1 e falou sobre a lista de músicas da atual turnê, o processo de composição da canção "Tears of the clown", sobre a morte do ator Robin Williams, os fãs brasileiros, a sensação de ver a banda do filho abrindo seus shows e, como todo bom britânico, de futebol.

Mesmo com tanto tempo de estrada, o principal letrista e único membro fundador a participar de todas as formações da banda, acredita que o Maiden ainda tem o que oferecer aos fãs no futuro. "Gosto de pensar que temos muita coisa para lançar", disse ele por telefone pouco antes de começar uma apresentação no México. "Tenho certeza que temos muita coisa boa pela frente".

G1– Você está há 40 anos na estrada. Estes são os primeiros shows da turnê do 'Book of souls'. Você ainda fica nervoso nesses momentos?
Steve Harris – Nós nos preparamos bastante, dessa vez, até mais que o normal. O Bruce [Dickinson, vocalista] quis começar os ensaios mais cedo, então estou me sentindo bem preparado. Quando você não está preparado, você não tem confiança. Então estou bem tranquilo.

G1 – Essa turnê passará por mais 30 países no mundo todo. Tem algum lugar novo que você quer muito conhecer?
Steve Harris – Bem, nunca tocamos em El Salvador ou na China antes. Então isso deve ser interessante. E claro que estamos voltando a alguns lugares nos quais amamos tocar, incluindo o Brasil. Mas estamos ansiosos por tudo isso, porque faz um bom tempo que não tocamos e vamos tentar aproveitar cada momento.

G1 – Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o segundo lugar com maior número de shows, junto com a Austrália. Quais as semelhanças e diferenças entre os dois países para vocês?
Steve Harris – Bom, os dois são lugares muito grandes, então são necessários muito shows. Mas os públicos são muito diferentes. Os australianos são mais parecidos com os ingleses. Já os brasileiros são um público maluco. Têm uma mentalidade mais parecida com torcidas de futebol, então é sempre um grande evento.

G1 – Vocês já tocaram muito no Brasil. O que vocês mais gostam no público brasileiro?
Steve Harris – Eles são loucos. Eles cantam junto das letras, cantam junto da guitarra… de tudo, é fantástico.

G1 – Falando sobre 'Book of souls'. Qual foi a principal influência desse álbum? Tem algo que você sente que ainda não fizeram como banda, como músico?
Steve Harris – Eu gosto de pensar que ainda temos algumas coisas. Na verdade, gosto de pensar que ainda temos muita coisa para lançar e este é apenas um pequeno capítulo no que estamos fazendo, que cada álbum é a imagem do que estávamos pensando em determinado período. Tenho certeza que ainda temos muita coisa boa pela frente.

G1 – E o que você estava pensando enquanto escrevia esse disco?
Steve Harris – Eu não sei exatamente o que estávamos pensando. Acho que só queria fazer um álbum muito bom e fazer o melhor som que podíamos. É basicamente tudo o que eu quero quando estou fazendo um disco. Parece simples, mas é isso que fazemos.

G1 – Agora temos serviços como Spotify ou Deezer. Isso mudou a forma como você pensa sua música? Mudou a sua relação com os fãs?
Steve Harris – Não mudou a maneira como pensamos nossa música. O que mudou é a maneira como as pessoas compram ela [risos]. Ou talvez como não compram nossa música. Mas não muda a maneira como eu escrevo, de forma alguma.

G1 – Mas você acha que muda a relação com os fãs? Eles já estão mais preparados na hora dos shows?
Steve Harris – Eu não sei. Acho que a maior parte dos nossos fãs ainda compram discos de qualquer forma. A maior parte são fãs muito leais. Somos uma das bandas sortudas que têm fãs que fazem isso. No final do dia, se tem alguém que não consegue comprar um álbum ou não consegue ir ao show e ouve de outra forma, também está tudo bem, mas a maioria compra uma cópia do álbum.

G1 – Em entrevistas, Dickinson já falou que 'Tears of a clown' é a faixa favorita dele no álbum. Qual é a sua?
Steve Harris – Eu não tenho exatamente uma, para ser honesto. Elas são tão diferentes que é difícil escolher uma. Tem algumas que são algo tão distante do que estamos acostumados que é difícil. Talvez se você me perguntar no final da turnê, depois que eu tenha tocado algumas vezes, eu tenha uma resposta.

G1 – Como Dickinson falou, você escreveu 'Tears of a clown' sobre Robin Williams. Por que sentiu vontade de fazê-lo?
Steve Harris – Bom, na verdade não é exatamente apenas sobre ele. É sobre todas as pessoas que todos acham que são felizes e acabam mostrando o outro lado. Mas obviamente se transformou em algo sobre ele, porque ele morreu na época. Foi difícil, eu realmente gostava do trabalho dele e acho que muitas pessoas admiravam seus filmes. E o fato de que alguém que deixava tantos felizes pudesse ser tão triste por dentro é algo a se falar, eu acho.

G1 – E tivemos algumas outras grandes perdas recentemente. Teve alguma outra que te deu vontade de escrever a respeito?
Steve Harris – Bom, quando Robin Williams morreu eu estava escrevendo e as outras foram depois, então aquela fez sentido, mas, sabe, as outras também marcaram. Lemmy [Kilmister] nós conhecíamos muito bem e foi duro. Chris Squire, do Yes, eu também conhecia e era fã, então foi muito difícil. Mas o que se pode fazer? É parte da vida. Morte é parte da vida. Quanto mais velhos ficamos, mais isso pode acontecer, então temos que aceitar.

G1 – Mudando de assunto, você tem uma banda paralela, a British Lion. Quando poderemos vê-los no Brasil? E quando sai o próximo álbum?
Steve Harris – Ah, nós adoraríamos tocar no Brasil. Na verdade, gostaríamos de tocar em muitos países. Sobre um novo disco, queremos lançar um novo no ano que vem, mas a ideia é ter um disco ao vivo antes disso. E eu vou tentar fazer mais alguns shows no final do ano, mas devem acontecer na Europa. Eu tenho que terminar a turnê com o Maiden antes, mas eu adoraria tocar no Brasil e sei que os outros caras também gostariam.

G1 – E tem algum clássico do Iron Maiden que você não toca há muito tempo e que gostaria de recuperar?
Steve Harris – Temos vários clássicos que não tocamos há um bom tempo, e que certamente vamos tocar em algum momento, mas provavelmente não mudaremos muito o setlist para essa turnê. A lista de músicas parece estar funcionando bem no momento, então se começarmos a tocar coisas diferentes, será em turnês futuras. Mas trouxemos “Hallowed be thy name” de volta ao setlist. Não a tocamos na última turnê, e é bom tocá-la de novo.

Acho que essa lista de agora é uma boa mistura entre o novo e o antigo. É claro, as coisas novas não provocarão a mesma reação que as antigas, mas é sempre assim, sempre que você lança um álbum novo. Porque as pessoas não conhecem tão bem, mas é o que nos mantem frescos, que mantem as coisas excitantes, atuais. É importante que continuemos avançando.

G1 – The Raven Age, a banda do seu filho, abre os seus shows nessa turnê. Como é viajar com seu filho como um músico?
Steve Harris – É fantástico. Sabe, eu o assisto todas as noites. Na verdade, eu já o assistia todas as noites quando ele abria para outras bandas, mas eu simplesmente adoro a música dele. E eu não posso dar um elogio maior que dizer que eu gostaria de ter escrito algumas delas.

Sem eu saber o Bruce assistiu um show e disse mais ou menos a mesma coisa a ele. Eles são uma banda muito boa. As pessoas dirão “Ah, você está dizendo isso porque ele é seu filho”, mas eles são bons. Não os teria convidado para a turnê se não fossem bons.

G1 – Por último, mas não menos importante, vamos falar um pouco sobre futebol.
Steve Harris – Sempre espero falar sobre futebol com um brasileiro (risos).

G1 – O que você está achando da performance do West Ham? Está feliz?
Steve Harris – Claro. Estou muito feliz. Me sinto ótimo porque meu amigo, Slaven Bilić, é o treinador. Eu o conheço há muito tempo. E meu filho, George, foi mascote do West Ham quando tinha cinco anos em uma partida, na qual conheci Slaven, há 20 anos.

Tudo isso é fantástico. O Slaven é um grande fã do Maiden. Quando nos conhecemos, ele contou que seus irmãos, quando era jovem, costumavam dirigir da antiga Iugoslávia até a Itália para comprar discos do Maiden.

G1 – E o que você acha da liderança do Leicester? Acha que é bom que um time pequeno ganhe?
Steve Harris – Acho que é ótimo, sim. Não sou exatamente torcedor do Leicester, mas tínhamos um cara que trabalhava conosco que era. Seria ótimo ver alguém diferente ganhar a liga.