Bruce Dickinson: "Eu não vou me aposentar"



O vocalista Bruce Dickinson concedeu mais uma ótima entrevista para o site TeamRock, onde falou sobre o novo álbum The Book Of Souls, a nova turnê do Iron Maiden e muito mais. Confira!

TeamRock: Então, sobre The Book Of Souls, você possuía algum tipo de interesse sobre a cultura Maia antes do título do novo álbum ter aparecido?

Bruce Dickinson: Não, não eu. Não tem nada a ver comigo. Esta é uma música de Steve Harris. Ele desenvolveu um interesse enorme pela cultura Maia. Não tenho certeza do motivo. Mas ele se interessou e então pensou: “Vou chamar de The Book of Souls”. “Sim, ok”. Sabe como é? The Book Of Souls é um ótimo título para um álbum do Iron Maiden, não é?

TeamRock: A ideia das "almas" está presente em algumas músicas do álbum.

Bruce Dickinson: Sim, está presente. Mas por outro lado, poderíamos chamar o álbum de "The Book Of Dark", e diriam "Oh, todas as músicas possuem a palavra dark em algum lugar". As pessoas pensam que tudo em um álbum é planejado, e não é. Parece assim depois que está finalizado, claro. Faz você lembrar da Bíblia. Você diz, "Claro que não foi tudo planejado, foi apenas um acidente afortunado. Eles fizeram tudo conforme iam compondo". E no final, alguém fala: "Ah, foi tudo uma profecia!" Idiotice.

TeamRock: Também traz cornetas e piano, algo que vocês nunca haviam feito antes. Por qual motivo seguiram por este caminho?

Bruce Dickinson: Eu escrevi "Empire Of The Clouds" ao piano. Quando você compõe no piano, isso apenas sugere algumas coisas. Eu podia ouvir harpas, sinos tubulares, tímpano, todas essas coisas. E então pensei, "Que seja: cornetas francesas, ok. Violoncelos, ok. Oboé, ok."

TeamRock: Como irão recriar isso ao vivo? A banda irá trocar seus instrumentos por cornetas, violoncelos e violinos?

Bruce Dickinson: Não. Eu duvido que iremos algum dia tocar essa música ao vivo.

TeamRock: É verdade que você está construindo a maior aeronave da história? Uma mistura de avião e dirigível?

Bruce Dickinson: Sim. No mesmo hangar aonde foi construído o R101 (o dirigível que inspirou Empire of the Clouds). Ainda está lá. Na verdade, há dois hangares. Um onde foi construído o R101 e, do lado, aonde construíram seu irmão, o R100. O R100 voou através do Oceano Atlântico e voltou. Mas foi construído por uma empresa privada. O R101 foi construído pelo governo e cometeram alguns erros. O dirigível era tão pesado que não conseguiria levar nenhum passageiro, então tiveram que fazer ele ainda maior, o que o deixou estruturalmente mais fraco. Ah, é uma história incrível. Eu poderia falar disso a noite toda.

TeamRock: Quando você lançará esta aeronave?

Bruce Dickinson: Nós já voamos com ela na América. Podemos voar com velocidade de apenas 120km/h, mas podemos voar por cinco dias. Então, cruzar o Atlântico não é problema. E o veículo é mais pesado que o ar, então ele decola e pousa verticalmente. Não necessita de uma pista.

TeamRock: Você o usaria para levar o Maiden em turnê?

Bruce Dickinson: Veja bem, se conseguíssemos ir de A a B em um dos nossos dirigíveis, então iríamos. Mas deve demorar ainda uns dois ou três anos antes que isso seja possível.

TeamRock: Você também possui uma empresa de manutenção de aeronaves, a Cardiff Aviation, e também está colaborando no lançamento de uma empresa de aviação africana, Air Djibouti. Como você conseguiu arrumar tempo para gravar um álbum com o Iron Maiden?

Bruce Dickinson: Gravar com o Iron Maiden é excepcional. Eu disse: "Desculpe, galera. Estou ocupado."

TeamRock: Você se considera um empreendedor?

Bruce Dickinson:  Eu sou um empreendedor, não há dúvida quanto a isso. Mas eu devo confessar: gostaria de ser empreendedor com o dinheiro de outras pessoas, mas não é o que todo mundo gostaria?

TeamRock: Com tudo o que você tem passado, você considera que ter sido diagnosticado com câncer foi como um alarme?

Bruce Dickinson: Foi uma parada total. Igual quando um carro bate em um muro de tijolos e o airbag é acionado. Aí você diz: "Ok...". Quando recebi o diagnóstico, o médico perguntou: "Quais são os seus planos?" Então eu disse: "A partir de agora, estou começando a me livrar disso. Este é meu trabalho em tempo integral. Nada mais importa." Pesquisei tudo. Eu pesquisei os medicamentos, a toxicologia, pesquisei sobre o câncer. Meu oncologista foi fantástico, pois ele me explicou como todo o processo funciona. Eu continuava indo até ele com perguntas: "Por que você faz isso, então? E por que é importante?" Ele dizia: "Ah, isso é porque o câncer age dessa forma, precisamos fazer isso para que aquilo funcione." E eu dizia: "Ok, entendido." Eu realmente queria entender o que acontecia no meu corpo e queria ser capaz de, não de controlar, porque não tem como controlar...

TeamRock: Mas se defender com conhecimento?

Bruce Dickinson: Isso, exatamente. Eu disse, "Sou meu próprio projeto de ciências pelas próximas nove semanas." Eu tive radiação o bastante para matar treze pessoas. E a experiência foi interessante. Não uma que eu gostaria de ter que repetir, mas você apenas segue com ela. Milhares de pessoas ao redor do mundo tem que fazer exatamente o mesmo. Não foi apenas eu.

TeamRock:  Eles disseram quanto tempo levaria até você se recuperar?

Bruce Dickinson: Perguntei ao oncologista, e ele falou: "Vou te dar um exemplo. Eu tive um piloto de guerra da RAF com o mesmo tumor que você. Ele esteve sentado nesta mesma cadeira, exatamente como estou falando com você agora. E quando o vi novamente, ele estava cem por cento em forma e recuperado, quase um ano depois". Meu primeiro pensamento foi: "Eu vou superar esse cara!" Não que eu seja competitivo, mas... Eu sou um pouquinho competitivo.

TeamRock: É verdade que você deixou crescer um bigode?

Bruce Dickinson: Sim, deixei crescer um bigode tipo Baader-Mainhof. Era isso ou um ator pornô ruim. Na verdade, tiraram uma foto minha no hangar. Eu estava usando um chapéu de proteção, e eu pensei: "Oh meu Deus! É o YMCA! Este bigode tem que sumir!" Então eu me livrei dele.



TeamRock: Os shows de The Book of Souls mostrarão que o Iron Maiden ainda tem gás?

Bruce Dickinson: Com toda certeza. Fazer um novo álbum do Iron Maiden não é como trabalhar. Sim, é um trabalho e estivemos trabalhando, mas não mentalmente.  Para muitas pessoas, trabalho é algo que elas não gostam, para conseguir dinheiro pra fazer as coisas que gostam. Pra mim, sempre pensei, "Eu devia tentar fazer algo que eu gosto, para que então eu goste de tudo o que eu faça." Você não quer levantar da cama, mas é o mais chato que isso é.

TeamRock:  Steve Harris disse, no passado, que não haveriam mais do que quinze álbuns do Iron Maiden. The Book of Souls é o décimo-sexto...

Bruce Dickinson: As rodas saíram do ônibus, sim. Eu não sei o que faremos depois deste álbum. Não irei fazer nenhuma previsão. Não há razões para ficar especulando. Mas sou completamente a favor de continuarmos gravando. Eu falei: "Já que estamos aqui, bem, por que não continuar e fazer mais um?" Eu não vou me aposentar. A única coisa que eu falo sobre aposentadoria é o seguinte, se você quer parar de fazer alguma coisa, tudo bem. Mas eu apenas pararia de fazer alguma coisa se eu quisesse fazer alguma outra coisa.

TeamRock: Uma vez você falou que estar em uma banda de rock era o único trabalho onde homens de cinquenta anos podem vestir as roupas mais ultrajantes e escapar disso.

Bruce Dickinson: Verdade. É o único lugar onde você pode vestir sua roupa de baixo por cima da calça e não ser preso.

TeamRock: O que você irá vestir na próxima turnê?

Bruce Dickinson: Em nossa última turnê, vesti uma porcaria – era um look estilo steampunk. Então quem vai saber o que vou vestir da próxima vez?

TeamRock: Existem algumas bandas tributo do Iron Maiden muito boas por aí...

Bruce Dickinson: Sim, inclusive nós mesmos! A única diferença entre nós e as bandas cover do Iron Maiden é que fazemos álbuns novos do Iron Maiden. De modo engraçado, é uma piada, mas também uma verdade. Se não fizer novos álbuns, você se tornará uma banda de karaokê de si mesmo. E para mim, isso não é uma boa razão o suficiente para dar um pedaço de minha vida e sair em turnê. Sim, o dinheiro é excelente. Magnífico. Mas não é o bastante. Tem que ser mais do que isso, pois essa banda é muito importante pra muitas pessoas. Precisa ser mais do que apenas "ei, é um bom dinheiro."

É por isso que The Book Of Souls é álbum tão importante. É por isso que, quando acabou se tornando um álbum duplo, nós dissemos: "Ótimo!" Ninguém mais faz álbuns duplos hoje em dia, exceto nós. Nosso empresário falou: "Um álbum duplo – mas que dor de cabeça! Não podem fazer como o Guns N’ Roses fez com Use Your Illusion?" Nós dissemos: "Não, vai se ferrar! Nós não somos o Guns N’ Roses. É um álbum de cada vez."

TeamRock: Então, ainda sobre as bandas tributo do Iron Maiden. Tem a Maiden United, uma banda tributo acústica e tem também The Iron Maidens, uma banda feminina de Los Angeles, com uma vocalista chamada Bruce Chickinson.

Bruce Dickinson: Eu as vi no México. Nós todos fomos assistir. Estávamos vendo e eu perguntei ao Steve, "Esta é uma pergunta muito estranha mas, olhando para elas, você se levaria para a cama?" E ele disse: "Eu não sei, mas nós todos estávamos pensando a mesma coisa!" Foi muito, muito estranho.



TeamRock: Qual é o seu Eddie preferido?

Bruce Dickinson: Eu acho o egípcio demais! E o do Live After Death também é fantástico. Estes seriam meus dois preferidos. Embora o Eddie do Somewhere in Time também tenha arrebentado.

TeamRock:  Para um mascote, o Eddie acabou tendo uma vida própria. É um grande feito, quando se pensa que tudo começou quando o empresário Rod Smallwood colocou uma máscara durante um dos primeiros shows e se fez completamente de bobo .

Bruce Dickinson: Era uma máscara kabuki, de uma loja de piadas. Acho que foi ideia do Rod colocar uma personalidade estranha na cara. Então fizeram uma máscara de borracha e vestiram uma jaqueta de couro. Isso se tornou simbólico para a fantasia de todo adolescente maluco.

TeamRock:  Hoje em dia, o público do Iron Maiden é composto de famílias: o garoto de 13 anos berrando feito doido; o pai, que está completamente acabado; e a mãe, a dona de casa com tudo em cima...

Bruce Dickinson: Temos sorte. Vou fazer cinquenta e sete anos no próximo ano – não acho que consigo mais pegar as donas de casa com tudo em cima! É bem estranho, o público aumenta e a idade diminui. É muito bom saber disso.

TeamRock:  É parte do seu trabalho fazer a arena vir abaixo, deixando do tamanho de um clube, para o público?

Bruce Dickinson: Com certeza. As primeiras frases da música de abertura do álbum são: "Start to speak wih the shaman again/ Conjure the jester again" – lá vamos nós! É assim. É o que fazemos no palco. Vou conjurar o palhaço e o shaman, todos em um.

TeamRock:  Uma turnê do Iron Maiden é sexo, drogas e rock’n’roll? Ou é mais golfe e cervejas estranhas?

Bruce Dickinson: Bom, eu não jogo golfe. Nosso baterista joga, mas ele não é diferente por isso. Tem muitos ex-viciados em heroína que gostam de golfe. Na verdade, eu acho que o golfe talvez seja pior. Para ser honesto, é muito raro que façamos algo além de sair e tomar umas cervejas, pois geralmente estamos muito cansados. Leva um tempo para que o corpo de um velho se recupere quando estamos fazendo três a quatro shows por semana. Não ficamos vagando ao redor do palco – damos tudo de nós mesmos.

TeamRock: E você ainda pratica esgrima, certo? Você enfrentou Bartozz Piasecki, o medalhista de prata olímpico norueguês. Como foi?

Bruce Dickinson: Eu não estava em forma de maneira alguma. Quer dizer, eles me pegaram de jeito – ele era o segundo melhor do mundo. Eu consegui fazer uns dois pontos. Ele tem mais ou menos dois metros e meio de altura.

TeamRock: Você se arrepende de não ter se juntado à equipe olímpica da Inglaterra?

Bruce Dickinson: De verdade, não. pois primeiramente, o time não era muito bom. Quer dizer, eles eram muito bons, porque eram os melhores que nós tínhamos na Inglaterra, mas no cenário mundial? Não eram assim tão bons. Eu podia ter me juntado ao time olímpico e eu teria sido eliminado no primeiro ou segundo round nas Olimpíadas, como os outros caras do time. Eu era um esgrimista mediano. Se você comparar com o tênis, no ranking mundial da esgrima, eu nem existia. Nos rankings nacionais, sim, ótimo. Mas você estar no ranking nacional, numa lista B, não era tão ruim para um cara numa banda de rock, mas não vamos enlouquecer com isso.

TeamRock: Você irá terminar, algum dia, a sua ópera rock sobre o violinista Paganini?

Bruce Dickinson: Quer saber? O script ainda está por aí. Se alguém topar e vir com uns dois milhões, então sim, vamos fazer. Mas estou esperando sentado.

Fonte: TeamRock