O retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao Iron Maiden



Dia 10 de fevereiro de 1999, pode ser considerado o dia oficial do anúncio de que Bruce Dickinson e Adrian Smith voltavam a fazer parte do Iron Maiden. O anúncio feito naquela noite foi divulgado pela Internet e nas rádios no dia seguinte. Muitos fãs lembram até hoje de como ouviram e o que sentiram quando feito o anúncio.

O site CafeMusic possui um resumo muito interessante de tudo que aconteceu antes, durante e depois da saída e do retorno de Bruce e Adrian ao Maiden. Confira o texto escrito ainda em 1999!

"Bruce e Adrian de volta ao Iron Maiden..."
CafeMusic - Fevereiro de 1999

A vontade mais profunda de qualquer fã do Iron Maiden finalmente se realizou, depois de anos de agonia. E o destino foi ainda mais generoso, pois realizou um duplo desejo com que os maidemaníacos sonham insistentemente todas as noites: Bruce Dickinson e Adrian Smith estão de volta à Donzela de Ferro. Sim, a formação clássica da banda está junta novamente. E com uma novidade: o grupo agora é um sexteto.

Bruce Dickinson (vocal), Steve Harris (baixo) e Nicko McBrain (bateria) agora vão contar com uma parede sonora de três guitarras: Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers. Diante de um time desses, dá para afirmar sem medo de errar: o Iron Maiden é definitivamente a maior banda de heavy metal de todos os tempos.

A saída de Bruce

Até hoje, apesar de milhares de versões diferentes, a saída de Bruce do Maiden nunca teve uma explicação convincente. O fato é que a carreira solo que o vocalista estava iniciando paralelamente à Donzela encontrou respaldo muito forte entre os fãs e, coincidentemente, o Maiden já não vendia discos como nos anos 80. Porém, isso nunca foi motivo para causar a saída do cantor, uma vez que ele e Steve Harris sempre formaram uma dupla entrosadíssima na hora de compor.

Apesar de tudo, Bruce fez um emocionante show de despedida, inclusive com transmissão via satélite para todo o planeta. Seguiu-se então um hiato esquisito, que só se encerrou quando os empresários anunciaram um concurso mundial para encontrar um novo vocalista para o grupo.

Foi uma estratégia marketeira genial, mas não chegou a ser nenhuma novidade, afinal, desde o início de carreira o marketing do Iron Maiden sempre mostrou-se digno de estudos de pós-graduação em qualquer boa universidade européia.

O fato é que a banda conseguiu grande publicidade com o tal concurso e vasculhou o planeta atrás de um cantor. Entre os finalistas, estava até o brasileiro Andre Matos, do Angra, que recebeu rasgados elogios do empresário Rod Smallwood, que cuida dos negócios do Maiden desde que ele foi criado, em meados dos anos 70.



O escolhido foi Blaze Bayley, do Wolfsbane, uma obscura banda inglesa cuja única semelhança com o Maiden era o fato de ambas serem empresariadas pela mesma companhia, a Sanctuary Music, presidida por Smallwood.

Desde o início, Bayley revelou-se um cara extremamente simpático, bem-humorado e inteligente. Qualquer pessoa que já tenha tido contato com ele sabe que Bayley é o tipo do cara amigão e divertido, do qual todos gostam. Porém, quando subia num palco, suas deficiências eram gritantes.

O tempo passou, dois bons discos foram lançados, mas os fãs passaram a ficar impacientes com Blaze. Apesar de carismático, sua performance e os terríveis erros de tempo; sem contar as desafinações; foram deixando os maidenmaníacos cada vez mais insatisfeitos.

Enquanto eram só os fãs e a imprensa que rejeitavam Bayley, até que ele se aguentou bem. Porém, chegou a um ponto em que os outros músicos da banda também passaram a rejeitá-lo. Aí, o bicho pegou.

A gota d'água nos shows do Brasil

Em 98, o Maiden saiu em turnê pelo mundo para divulgar o bom álbum "Virtual XI". Ao lado do Helloween, que também sofreu uma traumatizante troca de vocalista, a Donzela sentiu de perto a insatisfação de seu público.

Em conversa com jornalistas brasileiros, o cantor Andi Deris (Helloween), presente no dia-a-dia do Maiden por causa da tour, confessou que não sabia quanto tempo mais Blaze iria aguentar no posto, pois a pressão era muito grande. Essa conversa aconteceu um pouco antes da viagem que Helloween e Iron Maiden fariam ao Brasil, no final de 98. E foi justamente essa viagem que se tornou a gota d'água.

Ciente da insatisfação que crescia dentro do Maiden em relação a Bayley, fomos atrás de todos os detalhes possíveis para saber qual a posição de Steve Harris & cia. em relação ao assunto. E foi justamente em conversas informais com a equipe técnica da banda que fomos obtendo as informações mais relevantes.

Primeiro de tudo, Steve Harris chegou a comentar que a banda havia dado todas as chances possíveis a Bayley, mas que ele realmente não se revelara o homem certo para o posto. No Brasil, algumas músicas tiveram que ser tiradas do set porque Bayley simplesmente não conseguia cantá-las. A coisa chegou ao ponto de a banda ir e voltar para os shows em uma van, enquanto Bayley ia separado em outra. O desabafo de Janick Gers após o show de Buenos Aires foi reflexo do sentimento da banda em relação ao cantor: "Eu não o aguento mais!", desabafava Gers pelos bastidores.

Finalizada a turnê sul-americana, a banda tirou umas pequenas férias. E foi aí que tudo começou a acontecer.

Finalmente, a volta de Bruce Dickinson

As evidências eram claras: Bruce foi visto em longas conversas com Janick Gers, na França. Logo após as conversas, ele cancelou toda a turnê americana que estaria fazendo com sua banda solo ao lado do Anthrax. Coincidência?

No dia 16 de janeiro, Bruce subiu ao palco para participar como convidado em duas músicas do grupo brasileiro Angra. Juntos, eles cantaram "Flight Of Icarus" e "Run To The Hills". Nos bastidores, conversas informais acabaram se tornando uma valiosa fonte de informações…

Foi então que, usando nossas fontes mais enraizadas na família Maiden, confrmamos: Bruce estava de fato voltando ao Maiden. Obviamente, o anúncio oficial não poderia ser feito até que todos os contratos fossem assinados, todas as pendências resolvidas, principalmente a volta de Adrian Smith.

Aí, apareceram dois entraves: primeiro, a agenda de Bruce estava lotada até o ano 2000 e ele não queria simplesmente abandonar todos os compromissos assumidos. Segundo, sua amizade e consequente entrosamento com o guitarrista Adrian Smith não permitiriam que ele largasse tudo, especialmente após um álbum maravilhoso como "The Chemical Wedding".

As negociações foram se arrastando pelo final de janeiro e início de fevereiro. Apesar de o processo ter ficado levemente emperrado para acertar certos detalhes, Rod Smallwood sempre se revelou um negociador de primeira, capaz de contornar qualquer situação, por mais absurda que ela pareça. E foi justamente sua habilidade que acabou levando ao acordo final: sai Blaze Bayley, volta Bruce Dickinson e Adrian Smith. O Iron Maiden agora tem três guitarras e se torna, pela primeira vez em sua história, um sexteto.

Dos primeiros pronunciamentos

Após o anúncio oficial, a banda fez seus primeiros pronunciamentos em relação à volta. O próprio Bruce foi o primeiro a dar sua opinião sobre estar novamente no Maiden após todos esses anos:

"Não sinto como se fizesse muito tempo, não. Quando nos encontramos, eu e Steve [Harris] nos demos um grande abraço; e olha que acho que ele só me abraçou umas três vezes na vida." (Bruce Dickinson)

"Acho que vai ser excitante ter Bruce e Adrian de volta, estou alegre de ter seis caras na banda, com três guitarristas tocando. Até onde sei, não existe nenhuma banda no metal ou no rock que tenha tido três guitarras, a não ser o Lynyrd Skynyrd." (Steve Harris)

"Acho que a química na banda foi reforçada com a volta de Bruce e de Adrian. Acho que podemos recriar toda a mágica que havia antes." (Dave Murray)

Janick Gers, apesar de nunca ter tocado ao lado de Adrian (a não ser em jams), sempre foi grande amigo de Bruce e, exatamente por isso, não esconde a alegria com a sua volta:

"Ele é um cantor incrível, não perdi o contato com ele nesses anos todos. Não sei como vamos caber todos no palco, mas sei que vai ser um som muito poderoso e todos estamos muito excitados com isso." (Janick Gers)

"É demais estar de volta e tocando com eles novamente. Todos estão relaxados e felizes. E vamos tocar todos os clássicos do Maiden na próxima turnê." (Adrian Smith)

"Nem parece que ficamos tanto tempo separados. Quando se tem uma banda como a que tínhamos, a essência é muito forte. Afinal, são sete anos sem Adrian e quatro ou cinco sem Bruce." ( Nicko McBrain)

Quanto ao fato de ter uma poderosa parede sonora de três guitarras, o Maiden já está planejando como organizar tanta distorção. "O estilo dos três se encaixa muito bem", explica Bruce. "Janick é completamente anárquico e vai ficar mais livre, uma vez que antes ele precisava se preocupar com as partes que eram do Adrian. Dave é diferente de ambos. Sempre há trabalho para três guitarras nas músicas do Maiden, aliás, acho que as composições mais antigas vão soar ainda melhor com três guitarras."



O 1º compromisso e o futuro

O primeiro compromisso do Iron Maiden em formato de sexteto foi para a sessão de fotos que a banda divulgou no dia 10 de fevereiro, na Internet. Qual foi o clima que rolou nessa primeira reunião? "Muito natural. Ninguém se sentiu estranho, foi tudo muito legal", garante Steve Harris. O velho Dave Murray completa:

"Parece que nunca ficamos separados, todos estavam muito alegres. Sentimos que algo especial estava acontecendo ali, pois parecia que estávamos apenas há alguns meses separados. Isso é bom, pois mostra que a mágica ainda está lá." ( Dave Murray)

"Você sabe que está de volta ao Iron Maiden quando tem sanduíches e cerveja [na sessão de fotos]. Foi como uma viagem no tempo", diz Bruce, bem-humorado. Esse otimismo é compartilhado por Adrian: "Apesar de eu estar gripado, foi tudo muito bem no encontro. Foi uma chance que tivemos para conversar e já começar a planejar algo em termos musicais."

Depois que todos os detalhes contratuais foram acertados, o sexteto se prepara agora para uma maratona de ensaios visando à turnê mundial que começa em julho e vai cruzar os EUA e a Europa. Essa tour vai durar apenas até setembro e não há nenhuma data prevista para a América do Sul.

Quanto ao novo álbum, que obviamente o planeta inteiro está esperando, a banda pretende começar a compor em outubro e entrar em estúdio em dezembro. No início do ano 2000, teremos finalmente o primeiro álbum do Iron Maiden com seis integrantes.

Mas, se você é do tipo que não se agüenta de ansiedade, em maio sai 'Ed Hunter', um joguinho em CD-ROM para quem quer ter o Maiden até em seu computador.

Enquanto isso, tire o pó que repousava sobre seu "Powerslave", "The Number Of The
Beast" ou "Piece Of Mind" e prepare seu coração, pois aquela usina atômica está de volta, com as pessoas certas, nos lugares certos. E tudo isso apenas para continuar sentando no trono que nunca deixou de fato de ser seu: a de maior banda de heavy de todos os tempos.



Fonte: CafeMusic - Fevereiro de 1999