Campus Party 2014: Bruce Dickinson - Criatividade e Imaginação



Já não é de hoje que Bruce Dickinson é muito mais que o vocalista do Iron Maiden, ele se tornou um grande expoente do empreendedorismo e da criatividade empresarial, e falando sobre esses temas ele foi um dos destaques do primeiro dia da Campus Party Brasil, em São Paulo.

Antes do início da palestra, o amigo Eliel Vieira, tradutor da versão brasileira da biografia de Bruce Dickinson, foi convidado a falar um pouco sobre o seu trabalho e durante a fala citou o Iron Maiden 666, o que acabou resultando em um convite para que eu também me fizesse presente no palco principal. Foi legal ouvir o apresentador do evento perguntar para a enorme plateia: "Alguém aqui conhece o Blog do Igor?" ...e ver a grande maioria das pessoas levantar a mão! Muito obrigado, galera! :)



Mas vamos ao que interessa, como foi a palestra do Bruce Dickinson?

Os "campuseiros", em sua maioria fãs do Iron Maiden, puderam conhecer um outro lado do vocalista, que falou sobre sua experiência na criação de empresas e fez diversos paralelos entre a música da Donzela de Ferro e o mundo dos negócios. Com muito bom humor, Bruce fez uma palestra pautada em exemplos e analogias, citando fatos e experiências bem pessoais, o que transformou a palestra em uma espécie de bate-papo entre amigos; vamos aos principais momentos!

- O mundo dos negócios é como um Oceano 

Dickinson comparou o mundo dos negócios com o oceano: “Se você fica parado, como o peixe, você será comido por tubarões. Se você tem fãs, clientes fiéis, então você tem algo realmente valioso. Desenvolver negócios é desenvolver algo valioso. Se você quer ficar no mercado, tem que pensar o que é valioso e o que seu negócio faz que é único e especial”.



- Criatividade e imaginação

É na curiosidade, na observação, que surgem as melhores ideias de negócio. “Você pode achar um monte de gente com conhecimento, mas sem imaginação não é nada. Com imaginação e paixão você consegue criar tudo. A observação é a chave para a criatividade”, afirmou Bruce.

Quando o “mosquito da criatividade” pica alguém, é bom estar preparado. “Eu recomendo ter um pedaço de papel, uma caneta e escrever as ideias. Se você tem uma ideia incrível, especialmente se estiver no bar, sempre escreva essa ideia”, brincou.

- "As empresas precisam transformar seus consumidores em fãs"

Citando a Apple de Steve Jobs, Dickinson explicou que muitas empresas se enganam ao pensar que seu negócio é vender algo, como uma “vaca, software ou serviços”. Para Bruce, as empresas vendem uma relação com a pessoa que compra. Por esse motivo, o ideal é transformar seus consumidores em fãs e seguidores. "É uma religião, você compra um computador e se junta a um culto". Nesse momento, Bruce Dickinson falou um pouco sobre a sua relação com produtos da Apple e da Microsoft, protagonizando um momento muito engraçado ao lembrar de como eram pesados os antigos macintoshs.



— Eu não tinha uma boa relação com Bill Gates e o "Império do mal", na época. Bill Gates não é o “Império do mal”, na realidade, ele está dando todo seu dinheiro agora. Já Steve Jobs era um visionário, criando produtos com um design incrível, mas a Apple está começando a entrar em um espaço confuso com seus fãs virando consumidores. O novo iPhone é um saco. O iPhone 4 é o melhor de todos, por que mudá-lo?

Continuando a fala sobre telefonia, Bruce tirou um antigo telefone Nokia do seu bolso e arrancou risadas dos presentes, porém fez questão de explicar a preferência pelo produto finlandês:

— Esse telefone não possui muitos recursos, mas a sua bateria dura 5 dias, por isso eu uso ele. Esse é o telefone que inventou a Finlândia. Antes dele existir, não havia quem conhecesse o país. Impérios surgem e caem, por isso é melhor as empresas cuidarem do relacionamento para que seus fãs não virem consumidores.

Os fãs do Iron Maiden e as gravadoras

— Se vendêssemos camisetas do Iron Maiden que estragassem depois de lavar, nossos fãs rapidamente se tornariam consumidores. Eu odeio consumidores, porque consumidores têm uma escolha, eles podem ir para outro lugar. E nós queremos que os consumidores sejam fãs.

Para o vocalista do Iron Maiden essa é a grande diferença entre músicos e gravadoras. Se uma gravadora fechar, ninguém vai ficar triste, mas se uma banda decidir parar de tocar, muita gente vai ficar chateada.

—  As gravadoras não conseguiram acompanhar o que aconteceu depois que a Internet surgiu. Ao invés de perceberem que as pessoas não aceitariam mais pagar pelas mesmas músicas de novo e de novo, eles tentaram impor um modelo de consumo. Quando isso deu errado, acusaram os próprios fãs de roubo. 

—  As bandas têm fãs, mas as gravadoras têm clientes. Se os donos das gravadoras tivessem a visão de como o digital ajudaria no relacionamento, teriam um site em que era possível baixar as músicas. Aí alguém diria: ‘cara, você entrou no site daquela gravadora, é demais!’. Ao invés disso, eles viraram e disseram: nossos clientes são ladrões! [...] E algumas bandas também fizeram isso. (Nesse momento as risadas foram gerais, pois todos perceberam a indireta pro Metallica).

—  O erro estava na ideia de que eles podiam dizer como os consumidores deviam se comportar. 

A visão dele sobre o assunto e que provavelmente é a mesma do Iron Maiden, é bem diferente: “Com a popularização da música na Internet, muito mais gente hoje tem vontade de ir aos shows, e isso dá muito dinheiro. Basta que as bandas façam músicas novas, porque só os fãs mais ardorosos irão no mesmo show mais de uma vez”.

Bruce aproveitou a ocasião para aconselhar os campuseiros sobre como aproveitar a Campus Party. “Não fique o tempo todo anotando tudo o que estão falando nas palestras. A única coisa que isso vai fazer por você é encher sua cabeça de bobagens. Vá nos seminários em que o assunto possa acrescentar algo ao que você já sabe, e que você goste, porque sem imaginação não há invenção. Fale com as pessoas, conheça quem está aqui. Eu tenho certeza – em algum lugar nessa semana está escondida uma ideia de um bilhão de dólares. Tudo o que vocês precisam para criar algo absolutamente brilhante está nesse mundo em que vocês se encontram agora. Observação é a chave. Sejam curiosos!”, exaltou.



Jimi Hendrix inspirou a ideia do Ed Force One?

Bruce disse que a ideia do Iron Maiden possuir o seu próprio avião, surgiu após a leitura de uma biografia do lendário guitarrista Jimi Hendrix, que utilizava um avião fretado para se deslocar mais rapidamente durante as suas turnês, o que era algo inédito para a época.

Enquanto ganhava experiência como piloto de avião, Bruce percebeu que em determinadas épocas do ano muitas empresas aéreas abaixo do equador ficavam com mais de 30% da frota parada, o que tornava a locação de aviões algo muito barato.

“Pensamos bem e decidimos que poderíamos usar essa diferença de preço para fazer uma tour muito mais barata que o normal, unindo esses lugares com aviões parados. Todos da banda concordaram e então decidimos que onde o avião parasse, a gente faria um show. E esse diferencial fez a nossa base de fãs crescer de uma forma que as outras bandas não entendiam”, disse.



O sucesso da Cerveja Trooper

Ainda explicando sobre como encontrou sucesso financeiro com a banda, Dickinson falou sobre a marca de cerveja do Iron Maiden, a Trooper. “Chegou uma hora que produzir um CD deixou de ser lucrativo, mas as pessoas ainda ouvem a sua música. Então tive a ideia de fazer cerveja, e o que aconteceu é que passamos a vendê-la associada à música. A mesma pessoa só compra um CD, DVD ou download uma vez, mas quantas cervejas ela bebe? Muitas! E o sucesso da cerveja vem da fama da música – já atingimos 4 milhões de "pints" da Trooper vendidos. Não dá pra fazer o download da Cerveja! Esse é um bom negócio!”, explicou.

A palestra de Bruce durou pouco mais de 1 hora e arrancou muitos aplausos de todos os presentes. Ao final, Dickinson saiu da Campus Party em alta velocidade, sem fotos, sem autógrafos. Destino? Próxima palestra!

Fotos: Igor Soares e Cris McBrain

ASSISTA A PALESTRA DE BRUCE DICKINSON NA ÍNTEGRA!


Legendas em breve... :)