O Heavy Metal diante do conceito popular

Para tentar explicar e entender um pouco mais sobre qual é o real conceito do povo sobre o Rock e Heavy em geral, a equipe de um site de Heavy Metal foi às ruas de Belo Horizonte, ouvir pessoas sem a mínima ligação com o estilo e de diversas faixas etárias, sem levar em conta classes sociais ou qualquer outra característica...

Texto publicado originalmente no METAL CLUBE

O Heavy Metal é de longe um dos estilos musicais mais polêmicos do planeta. Para alguns, o estilo é recheado de mensagens satânicas, músicas barulhentas, visual carregado e muitos outros fatores pejorativos que tomaram conta do imaginário de boa parte da população, que rotula, erroneamente, o estilo como uma fonte inimaginável de pontos negativos.

De fato, alguns acontecimentos "bizarros" ou apenas simples ações cotidianas de astros da música pesada contribuem para essa visão e podem levar as pessoas a criarem algumas conclusões precipitadas sobre o perfil daqueles que são apaixonados por Rock e Heavy Metal. Um exemplo clássico disso é o episódio nada convencional entre Ozzy Osbourne e o morcego. Num show da turnê do disco “Diary Of A Madman” nos Estados Unidos, em 1982, o cantor apanhou um morcego de verdade atirado no palco pela platéia e, “pensando ser de mentira”, tascou uma dentada na cabeça do animal, arrancando-a totalmente. Ozzy inclusive foi submetido a um pesado tratamento anti-rábico para prevenção de raiva ou eventuais infecções. Tratamento esse que fez o Madman cancelar alguns shows daquela turnê.

Outro fato insano envolve a lenda de que Marilyn Manson retirou costela(s) para fazer sexo oral em si mesmo. Na verdade, a lenda, cultivada até hoje talvez pelo choque causado ou pelo marketing, já foi desmentida pelo próprio cantor, que disse na ocasião que até acharia interessante – declaração que provavelmente manterá a dúvida por ainda muito tempo. Isso sem contar o visual totalmente estranho e toda a parafernália estética adotada pelo Kiss, com maquiagens e vestimentas pra lá de diferentes, o mascote Eddie, do Iron Maiden, bem como a letra de “The Number Of The Beast” e muito mais.

Mas a idéia de que metaleiro adora fazer "baderna" e que é "rebelde", foi criada também por outros fatores. Um deles é a mídia, que pouco apóia o estilo, e quando se arrisca a soltar alguma manchete sobre acontecimentos ligados ao gênero, abusa de desconhecimento e apela para comentários que não condizem com a realidade. Muitos já devem ter visto matérias do tipo: "Estudos mostram que Heavy Metal incentiva motorista a dirigir em alta velocidade", ou então, "Jovens que ouvem Heavy Metal tem tendências suicidas e são agitados".

Os responsáveis por esses conteúdos, involuntariamente ou não, se esquecem de que os estudos se baseiam num gênero polêmico por si só e, logo, passível de um estudo gerador de ainda mais polêmica, porém, absurdamente preconceituoso. Se a intenção é fazer estudos em cima de qualquer tendência estética, comportamental, psicológica ou filosófica, é plenamente possível que se analise – ou até que se julgue – que existem motoristas embriagados amantes do Metal, do Forró, do Funk, do Axé, do pagode, das infindáveis tendências eletrônicas. O mesmo vale para jovens deprimidos ou com tendências suicidas.

Para tentar explicar e entender um pouco mais sobre qual é o real conceito do povo sobre o Rock e Heavy em geral, a equipe do Metal Clube foi às ruas de Belo Horizonte, ouvir algumas pessoas sem a mínima ligação com o estilo e de diversas faixas etárias, sem levar em conta classes sociais ou qualquer outra característica. O jovem Jorge Gabriel Simões, 17 anos, é apaixonado por Jazz e Blues e considera o Heavy Metal um estilo com muita história em sua bagagem e que possui um enorme legado de fãs no mundo todo, mas que deve ser visto apenas como um estilo musical e não como uma adoração. Ele afirma: “Essa adoração chega a tal ponto que o que era pra ser apenas música, acaba virando um produto alienador”.

Ainda falando sobre o perfil do público que acompanha o Heavy Metal, o jovem vai mais além. “Lembrando também da falta de respeito que a maioria tem por outros estilos musicais, que muitas vezes eles até mesmo desconhecem e começam a tratar os simpatizantes ou mesmo fãs de modo inferior e irônico. Só porque os outros curtem outro estilo, são considerados inferiores ou que tem pouca personalidade. Está na hora de mudarem o modo de pensar e agir e começarem a aceitar que não é só o Heavy Metal que tem uma história e um legado de fãs”.

Em contrapartida, Carla Andrade, 35 anos, entende a forma como os “bangers” se comportam. Para ela, trata-se de um público normal como qualquer outro, “que tem a sua forma de expressar e às vezes é mal interpretado”. Carla, fã de MPB e música clássica, acha que o baixo apoio da mídia ao Heavy Metal se deve a opiniões ainda nebulosas por parte das pessoas: “Essa falta de apoio se deve a uma visão onde ligamos o Heavy Metal a rebeldia e algo vindo do “ocultismo”.

“O Metal não é tão comercial quanto os outros estilos, que se adaptam ao longo do tempo. Metal é Metal e ponto final. A mídia gosta de moldar. É difícil fazer isso sem mexer na essência do que o Metal representa para os fãs e para o mundo!”, argumenta Rafaella Andrade, 20 anos, estudante.

Rafaella não possui um estilo de música favorito, mas preza por canções com boa letra e melodia. Sendo assim, não poderíamos deixar de perguntar a estudante o que ela acha mais interessante nas músicas de Heavy Metal: “Não há melhor ligação entre a guitarra e a bateria do que no Metal. É algo surpreendentemente mágico!”

Existem aqueles que eram fãs de Heavy Metal, e atualmente largaram o estilo por alguns fatores negativos. “Dentro do Heavy Metal existem músicos excepcionais e alguns muitos bem preparados academicamente. Em grande parte são músicas de extrema qualidade. Disso eu gosto muito, mas não me atrai as letras que falam de adoração à morte, violência, caos. Já fui fã por muitos anos e estes fatores, dentre outros, me fizeram afastar”, diz Marco Malfatti, 23 anos, que não acha interessante encarar o Heavy Metal como estilo de vida.

Sobre isso, ele afirma: “Não tenho preconceito, mas por ter estado nos dois lados, acredito que o preconceito maior parte do público do Heavy Metal para com os demais. Encarar o estilo de música como um estilo de vida para mim é um exagero ou algo desnecessário. Com relação ao apoio mínimo da mídia ao Metal, acho que o comportamento de alguns fãs mais fervorosos em não aceitar se misturar aos demais acaba bloqueando eventuais apoios. Querer ter algo exclusivo em um meio ainda preconceituoso não é o melhor caminho.”

Uma coisa é fato: o Heavy Metal é um dos estilos mais polêmicos do planeta, que está vivo há décadas, sendo seguido por uma legião imensurável de adeptos, proporcionando acima de qualquer ponto negativo, alegria e diversão; algo que poucas pessoas conseguem descrever com palavras! Já dizia um camarada bastante conhecido, de nome Ronnie James Dio: “Long Live Rock n’ Roll!”.

Contribuição: Marcos Paulo Fernandes e Guilherme Mitre