Por que o show do Iron Maiden ainda é sensacional?

Passada toda a euforia da visita do IRON MAIDEN e sua tour pelo Brasil, a primeira "100% equipada" igual às que fazem no exterior, vale à pena ler o interessantíssimo texto escrito por Régis Tadeu, colunista do Yahoo! Brasil, onde ele tenta responder à pergunta: "Por que o show do Iron Maiden ainda é sensacional?"

Por Regis Tadeu, colunista do Yahoo! Brasil

Os motivos aparecem de modo difuso, não muito claro, como se houvesse uma espécie de névoa de mistério em torno da apresentação. Estive pensando nisso durante o trajeto de volta para casa, depois de ter sido apenas um mero coadjuvante em um mar de 60 mil pessoas que haviam presenciado a – mais um! – ótimo show do Iron Maiden. Meu Deus do céu, por que ainda gosto desses caras?

Eu posso citar alguns argumentos óbvios, como a qualidade das canções, por exemplo. Mesmo depois de tantos anos, músicas como "Aces High", "Hallowed Be Thy Name", "Wrathchild" e "Number of the Beast" continuam com a mesma 'pegada', com arranjos muito bem construídos, que suplantam a canastrice muitas vezes empregada em sua execução em cima do palco. Mas como explicar o arrepio em minha espinha quando vejo e ouço a banda tocando "2 Minutes to Midnight" e, principalmente, o sorriso em meu rosto quando o velho mascote Eddie aparece como uma múmia por trás da bateria em "Iron Maiden", e como um assassino futurista em "The Evil That Men Do"? Por que me divirto com essas coisas sabidamente ridículas em pleno 2009?

A resposta está naquilo que o Iron Maiden e uma série de outras bandas de heavy metal do início dos anos 80 – Judas Priest, Saxon, Riot, Slayer e, por que não, o Metallica – representou para a minha geração, na época recém-saída da adolescência e ingressando naquele período intermediário da juventude, em que as pessoas começam a pensar como adultos, mas ainda agem movidas por seus respectivos hormônios. Esses grupos eram como exércitos de coerência musical, que uniam o peso dos timbres de seus instrumentos a canções vibrantes, quase épicas, entoadas por músicos com uma postura quase heróica frente a um mar de "bundamolice" que dominava as paradas de sucessos da época.

Ter a minha idade – 49 anos – e ainda sentir uma leve onda de empolgação a percorrer o corpo durante um show do Iron Maiden é sinal de que minha memória afetiva ainda não me abandonou. E acho que é exatamente isso o que aconteceu no domingo passado com as 60 mil pessoas que estavam presentes ao autódromo de Interlagos, em São Paulo. Pouco importou que os fogos de artifício dessem "chabu", falhando miseravelmente na épica "Rime of the Ancient Mariner"; que o guitarrista Janick Gers tenha o melhor emprego do mundo – ganha um belo salário, se diverte com suas próprias macaquices em cima do palco e ainda assiste ao show de um lugar privilegiado, mesmo sendo, como instrumentista, um embusteiro medíocre – e que Steve Harris e Bruce Dickinson se odeiem (sim, isso é verdade!). A simples inclusão de duas canções raramente executadas nos shows - "Phantom of the Opera" e "Children of the Damned – já foi motivo para que outro sorriso ficasse estampado em meu rosto, algo nada comparado ao verdadeiro êxtase que tais músicas provocaram nos admiradores mais afoitos. É isso que explica o fato de o Iron Maiden não ter fãs, e sim torcedores, tamanha é a paixão que os mesmos devotam ao quinteto, muitas vezes de um modo um tanto tresloucado e imbecilizante.

Por outro lado, de uns tempos para cá, tenho prestado bastante atenção a detalhes que refletem uma situação que vem se repetindo cada vez mais: bandas com uma extensa carreira deixando de lado suas composições mais recentes e privilegiando o passado. Com o fim da influência dos videoclipes – e o Iron Maiden foi um dos grupos de heavy metal que melhor utilizou tal ferramenta de marketing -, seus discos mais recentes acabaram passando despercebidos, a ponto de suas canções terem sido sumariamente excluídas dos shows. Isso explica por que a banda anda batendo incessantemente na mesma tecla, ou seja, dando ao seu público – ortodoxo por natureza - aquilo que ele quer: as mesmas músicas de sempre, com um ou dois "aperitivos" extras. Agora, pense bem: será que um show montado com canções bacanas e pouco tocadas – como "Where Eagles Dare", "Prowler", "Murders in the Rue Morgue" e "Moonchild" – não atrairia um público ainda maior?

Agora, para terminar, um alerta: por pouco, o show de Interlagos não terminou em tragédia! A desorganização do evento foi um troço estarrecedor. Na hora de chegar, filas enormes se formaram para entrar no único portão a dava acesso à pista normal, o setor mais "barato" – com ingresso custando "salgadíssimos" R$ 140- e que concentrava a maior parte do público. Muita gente chegou durante a terceira música – e olha que a banda retardou o início da apresentação em uma hora para atenuar o problema – para encontrar um imenso lamaçal.

Na saída, só não aconteceu uma catástrofe porque até mesmo Deus estava satisfeito com a performance do Maiden. Inacreditavelmente, havia uma única rampa para todas as 60 mil pessoas saírem. Resultado: empurra-empurra, gente pulando alambrados e derrubando placas de metal que serviam como paredes, pessoas aguardando quase uma hora para sair do local, filas quilométricas e estáticas na saída do estacionamento, cadeirantes sem saber o que fazer, segurança e policiamento inexistente...

Que o autódromo de Interlagos – em péssimo estado de conservação - não tem a mínima estrutura para shows deste porte, isso todo mundo sabe. Mas será preciso ocorrer uma tragédia para que os organizadores do evento, o Contru e a Prefeitura venham a tratar o público com um mínimo de dignidade?
Pergunta: você ainda acha que o Iron Maiden é uma banda musicalmente relevante ou não passa de um bando de tiozinhos arrancando uns trocados dos fãs?